Na última sexta-feira, dia 3, a juíza Sandra Sallete da Silva, juíza da Vara Criminal de Lagoa Santa, recebeu a medalha “Desembargador Hélio Costa”, a maior homenagem do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
Para mim, foi momento de muita emoção. Sandra Sallete é minha irmã. E foi com ela que percebi que era diferente. Afinal, minha mana foi uma criança típica, com uma leveza que eu não conhecia. Foi ela que me serviu de referência para minhas tímidas investidas no convívio social. Lembro a menina risonha que amava estudar e brincar, em um tempo de muita pobreza. Contudo, minha mãe nos ensinara: “quem determina seu futuro é você.”
Para mim, eventos assim, não são fáceis. Ou seja, são encontros sociais com muito barulho, muitas pessoas. Portanto, muita interação. Geralmente começo a me sentir mal uma semana antes. Mas nesse evento, em especial, meu maior pesadelo era não saber o roteiro do que ia acontecer e não reconhecer as pessoas. Aliás, não reconhecer as pessoas é uma das características de meu cérebro. O que, certamente, me assombrou a vida toda.
Muitas vezes, ao me encontrar com alguém, eu não faço a menor ideia de quem seja. Apesar de ele saber o meu nome e até citar pessoas que eu conheço. Já pensou o constrangimento?
No entanto, essa situação é bastante comum — e geralmente acontece quando encontramos com conhecidos em lugares fora de um contexto habitual. Mas tem explicação. A prosopagnosia é uma dificuldade conhecida como “cegueira para faces”. Ela se caracteriza pela dificuldade ou completa incapacidade de reconhecer rostos. Assim, eu não me esqueço simplesmente das feições de conhecidos, como a pessoa pode acreditar.
Dependendo da severidade de cada caso, a pessoa chega a ter dificuldade para reconhecer familiares e até mesmo os próprios rostos. Eu não chego a tanto. Mas somente com os familiares com os quais tenho convivência constante.
Por isso, sempre que posso, evito situações potencialmente desafiadoras, como encontros e reuniões sociais. Busquei a explicação e encontrei algumas pesquisas. Elas apontaram que, aparentemente, existe uma maior incidência de cegueira para faces entre as pessoas autistas.
Portanto, na homenagem à minha irmã, o prefeito de Lagoa Santa, Rogério Avelar, sentou-se a meu lado e eu não o reconheci. Eu havia realizado com ele e Secretaria de Educação, um lindo evento no qual os educadores da cidade receberam capacitação em educação inclusiva. Por duas vezes.
Ainda assim, a noite foi linda. Senti enorme orgulho. Pensei em tantas famílias que lutam, proporcionam educação pública aos filhos a despeito de todas as dificuldades. E, ao final, sentem esse mesmo orgulho que eu sinto agora.
“Em momentos como este, um filme se desenrola em nossa mente. Vejo-me ainda criança, arrumando a casa, meu uniforme escolar já surrado, porque já passara por tantas outras mãos, minha mãe prendendo meu cabelo em lindas maria chiquinhas (eu amava) e me sentia a mais importante, indo para o grupo escolar municipal, com minha mãe cantarolando músicas para me distrair porque o caminho era longo e íamos à pé.”
Mas por que tal homenagem à minha irmã foi super merecida? Confira no vídeo, com uma pequena parte de seu discurso:
Texto de Selma Sueli Silva
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