A pergunta é clara, então… é Natal e você está preparado para abraçar as diferenças? O senso comum diz que sim. A maioria até tenta. No dia 24, antes da ceia, vão, com seus carros lotados de brinquedos reciclados ou baratinhos, até viadutos e pontes. Alguns optam por distribuir sopas, um arremedo de ceia para quem pouco, ou nada tem para comer.
Voltam a suas casas com largo sorriso no rosto e a certeza de dever cumprido. Certamente, não critico quem se dispõe a essa distribuição, mesmo capenga, de renda. Minha saudosa Vó Glória já dizia: “Antes pingar do que faltar.” Penso sim, no que, no budismo, chamamos de ‘Tesouro do Coração’. Aquilo que, verdadeiramente move seu coração. Autenticidade? Preocupação genuína com os menos afortunados? Piloto automático? Culpa? Desejo de parecer mais que ser? Amor? Somente você saberá responder. Afinal, natal é uma boa época para se abraçar as diferenças.
Não é fácil abraçar as diferenças.
Há quem diga que é movido pelo espírito de prezar o próximo todos os dias de sua vida. E, em cima dessa premissa, constrói suas sólidas (?) justificativas. Ah, santo inocente. A essência universal da premissa se perde no primeiro embate real com a tal diferença. Novas justificativas são rapidamente construídas: “Não sou salvadora de almas. De nada adianta dar o meu melhor, se não há reconhecimento.” “Tal pessoa é muito difícil, fiz de tudo. Mas ela não quer ser ajudada.” “Entendo o seu comportamento distorcido, mas não é aqui que tal pessoa vai corrigi-lo.” Falastrões, cegos pelo ego.
Então… é Natal
Abraçar as diferenças não é fácil. Por isso mesmo, é tão enriquecedor. Antes de iluminar sua casa, seu bairro, sua cidade é preciso iluminar a sua alma. É preciso enxergar que abraçar as diferenças e o diferente (qualquer que seja a diferença), pressupõe relação, entrega, auto conhecimento, aprendizado. Incluir é trazer para si a diferença e não estender a mão do alto de sua ‘sapiência suprema’, para derramar sobre o incauto, muitas vezes rotulado, toda a sua generosidade.
Não existe mão única na inclusão. Existe um afetar-se mútuo. Uma entrega à descoberta do novo: “Um novo jeito de ser, de experimentar a vida, de pensar, de vivenciar escolhas, de ser recebido, de receber, de criar laços. Aí sim, você pode aderir ou não, querer ou não, desejar ou não. Mas o respeito não é escolha. O respeito é necessário. Só então você percebe que, a partir da troca, você está mais rico, compreende, entende mais.
Então, é Natal. Você está preparado para abraçar as diferenças. Assim, não é mais o caso de senso comum, de inconsciente coletivo, de piloto automático, de parecer ser quando não se é. Agora sim, é real, é transformador, libertador e rico, então… é Natal.
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