Como se deu o início do Enem não inclusivo, a cara do governo? É o que vamos analisar, agora. Desde que ao menos 30 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) pediram demissão, famílias e alunos do ensino médio ficaram apreensivos. O exame do enem está marcado para os dias 21 e 28 de novembro.
As demissões ocorreram em meio a denúncias de censura no conteúdo da prova. No entanto, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que, agora, o Enem tem a cara do governo. E imaginem que a edição deste ano do exame registrou o menor número de inscritos nos últimos 16 anos.
Enem 2021 tem perfil mais elitista, não inclusivo – a cara do governo
Assim, o professor de Ciências Sociais e conselheiro da organização UNEafro, Wellington Lopes alerta: “o governo Bolsonaro é responsável por fazer com que o perfil dos candidatos do Enem esteja mais branco e elitista.”
Não por acaso, a edição do Enem 2021 registrou o menor número de inscritos desde 2005. Além disso, apresentou a menor taxa de participantes negros vindos de escolas públicas dos últimos anos. Em contrapartida, houve aumento no número de pagantes e de alunos brancos.
Portanto, conclui o professor Wellington, “Se este é o Enem mais branco e elitista da última década, é justamente por uma prática que caracteriza este governo”.
A volta da censura em um Enem não inclusivo
Servidores do INEP relataram que o diretor de Avaliação de Educação Básica, Anderson Oliveira, pediu a remoção de mais de 20 questões da primeira versão da prova. Aliás, a maior parte das questões se referia a contextos sociopolíticos ou socioeconômicos.
Contudo, essa escolha não é aleatória. O mais importante a ressaltar é que ela é técnica. Além disso, é feita a partir de um repositório de questões. Ou seja, são elaboradas por professores selecionados por edital. Desse modo, são profissionais aptos à missão dada a eles.
O INEP era esperança de um Enem mais inclusivo
O Inep é responsável pela produção de evidências sobre o andamento da educação brasileira. Então, a partir dessas evidências é que acontecem o planejamento, formulação, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas. Aliás, o que se repete em todos os níveis educacionais e esferas federativas.
Entretanto, nos últimos anos, o INEP passou por sucessivas trocas de comando. Como resultado a estrutura de gestão tornou-se fragilizada. Certamente, perda permanente de profissionais qualificados.
Enem não inclusivo? A cara do governo?
Para Anna Venturini, Doutora em Ciências Políticas, não há disposição do governo federal para atrair novos perfis de candidatos em meio à queda histórica na inscrição.
“O governo não incentiva estudantes a ingressarem no ensino superior. Ele exclui grupos da população”. Anna Venturini
Se já é um desafio participar do Enem quando se está em pé de igualdade, imagine para alunos discriminados. Afinal, apenas 3,1 milhões de pessoas estão confirmadas para realizar as provas nos dias 21 e 28 de novembro. É o menor número desde 2005. Entre os participantes pardos e pretos, a diminuição foi de 52% (de mais de 3,4 milhões no ano passado para 1,6 milhão em 2021).
“Os estudantes deixaram de ver no Enem uma possibilidade de melhoria de suas vidas”. Chico Soares, ex-presidente do Inep e professor emérito da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais.
Texto da jornalista e youtuber Selma Sueli Silva
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