Felizmente, o entendimento sobre a empatia no autismo deixa para trás, a crença de que autistas não são empáticos. Ou seja, isso acontece, à medida em que se ampliam os estudos sobre aspectos cognitivos e emocionais sobre a empatia. Afinal, esse é um conceito de complexa definição científica no qual vários fatores se entrelaçam.
Entretanto, autistas tendem a ser autocentrados. Contudo, às vezes, há uma má interpretação sobre o que essa característica significa. Certamente, essa característica não quer dizer, necessariamente, que a pessoa seja egoísta ou egocêntrica. Ou, ainda, que não se importe com os outros. Ou qualquer outro juízo de valor.
Quando se é autocentrado, até o seu sofrimento do outro, você enxerga a partir de sua própria percepção. Então, é essa percepção que, em diversos momentos, leva você a mover céus e terras para ajudar uma pessoa. Mesmo que ela não necessite ou precise desse auxílio. Ou ainda, sem que ela sequer tenha solicitado sua ajuda. Desse modo, você não compreende porque o ouro tem um modo diferente de vivenciar tal sentimento que provoca a dor. Às vezes, o outro tem uma maneira bem mais leve de encarar a situação. Entretanto, para o autista, se ele pensa que estaria sofrendo nessa mesma experiência do outro, nasce, instantaneamente , o desejo de levar a melhor solução à outra pessoa.
Isso me levou à reflexão. Fiquei pensando se há benefícios em ter um funcionamento mais autocentrado. No contato com outras pessoas, essa característica é, muitas vezes, rotulada como algo negativo. Ao longo da minha vida, ouvia como uma crítica, a percepção de que eu era autocentrada. Em outras palavras, que seria algo a ser compensado por outras características. Por exemplo, as capacidades acadêmicas.
Ser autocentrada não é necessariamente algo ruim. Nada é um bem ou mal em si. O que define o impacto das características em nosso dia a dia, é como lidamos com elas.
Precisamos ter ética com o outro. Se eu conheço e sei lidar com o meu funcionamento autocentrado, consigo ampliar ou até mesmo, otimizar o meu cuidado com o outro. Por muito tempo, acreditei que esse traço só faria mal aos outros. Como se eu não tivesse, sequer, a noção do que faz mal ao outro. Não. Não é bem assim.
Por ser autocentrada, eu sempre me autoanalisava. Ao mesmo tempo em que ser uma pessoa autocentrada me dificulta perceber algumas necessidades alheias, também me possibilita conhecer as minhas próprias necessidades. E a trabalhá-las para me tornar mais plena no encontro com o outro.
Sophia Mendonça é bacharela em Jornalismo e escritora. É também mestranda em Comunicação Social e bolsista da FAPEMIG. Sophia é membro do Afetos, grupo de pesquisa em Comunicação, Acessibilidade e Vulnerabilidades. Foi diagnosticada autista aos 11 anos, em 2008.
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