Victor Mendonça e Raquel Del Monde
Victor: Hoje, vamos tratar de um tema bem delicado, em que há toda uma controvérsia, que é sobre a expressão “sair do espectro do autismo”. Profissionais apontam que, a partir de um determinado momento, a gente pode não mais preencher um diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isso traz a seguinte reflexão: “Eu tenho um esforço enorme para melhorar, para me aprimorar quanto às dificuldades, aos desafios que eu enfrentava, e agora falam que eu não pareço autista, que eu saí do espectro”. Então, eu queria trazer à discussão um lado mais técnico. Do ponto de vista genético: é possível a pessoa sair do espectro? A gente fala que o autismo é uma condição genética?
Para isso, convidamos a neuropsiquiatra doutora Raquel Del Monde:
Doutora Raquel Del Monde: Quando compreendemos a natureza dessa configuração neurológica que chamamos de autismo, fica claro que não existe o “sair do espectro”. Porque nós estamos falando de uma condição do neurodesenvolvimento em que temos toda uma predisposição genética que vai configurar a transmissão de informações de uma maneira diferente de um padrão, de uma maneira atípica. E, sim, a gente trabalha para que a pessoa adquira habilidades, para que ela vá desenvolvendo estratégias para lidar cada vez melhor com as dificuldades, mas isso não significa que a pessoa deixou de ser autista.
Então, quando uma pessoa fala que “sair do espectro”, o que seria esse espectro que ela está falando? Eu acho que esse é o X da questão, Victor. Qual definição de espectro que ela tinha para que uma pessoa se encaixasse? Porque a maior parte das pessoas, tanto a sociedade em geral, as pessoas leigas, como até muitos profissionais, ainda não assimilaram toda essa multiplicidade de manifestações que vemos no autismo, que variam de um autista para outro e também, ao longo da vida, com o passar dos anos.
Victor: Sim. É muito esclarecedor isso, a gente pode ajudar muitas pessoas. Eu mesmo já recebi essa pergunta em palestras, mas a gente não é técnico da área. Eu tenho entendimento do autismo, mas eu sou um comunicador, acima de tudo.
Uma coisa que eu lembro que você pontuou certa vez, em uma conversa que a gente teve, foi sobre o fato de que algumas pessoas podem evoluir para um estágio mais autônomo, independentemente do tratamento ou por causa dele. Como se justificaria isso?
Doutora Raquel Del Monde: É verdade, e até no texto em que escrevi sobre sair do espectro, eu comentei que a única atitude honesta a respeito da evolução de um autista é a gente admitir que existem muitos fatores envolvidos. Então, o ambiente pode sim ser favorecedor ou desfavorecedor, quanto a isso não há dúvidas.
As crianças que recebem uma terapia adequada por um tempo suficiente, que têm um ambiente escolar e familiar favorável, é claro que elas vão ter muito mais oportunidades de desenvolver suas habilidades, as suas estratégias, elas vão ter muito mais chances de treinar, de praticar, de realmente assimilar habilidades novas. Agora, existe o potencial neurológico de cada um, que é algo sobre o qual nós não temos controle.
Por isso que a única atitude realmente honesta é a gente reconhecer essa multiplicidade de fatores que são envolvidos na evolução individual.
Contatos doutora Raquel Del Monde
Instagram e Facebook: @draraqueldelmonde
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