No texto de ontem a querida Selma nos falou que “filho perfeito é o nosso filho”. Aliás, também me emocionou ao afirmar que a gente faz, com toda a força de nossas entranhas, a luta por nosso filho e não pelo nosso filho, no lugar da luta dele. Assim, fiquei muito reflexiva sobre isso: lutar pela causa de nossos filhos e não lutar no lugar dele. Portanto, tem algumas lutas que temos que suportar que nossos filhos é que farão e nosso papel será ser amparo, ficar na observação, no bastidor.
Por exemplo, uma das grandes lutas da vida que não conseguiremos fazer pelos nossos filhos é a experiência amorosa. Desse modo, não temos como nos apaixonar no lugar deles. Não temos como escolher e definir por quem eles irão se apaixonar. Além disso, não temos como sofrer as desilusões amorosas e poupá-los. Adoraríamos que isso fosse possível… adoraríamos poupar nossos filhos das dores do amor.
As experiências afetivas e amorosas começam a deixar de ser platônicas na adolescência. Primeiros beijos, primeiros namoros, primeiras transas e, também, primeiras decepções e desilusões amorosas. Então, acolher o sofrimento de uma desilusão amorosa é mais um desafio para as mães de adolescentes. E quando esse filho é um adolescente com deficiência?
Conversei muito com uma amiga que tem um filho com paralisia cerebral esse fim de semana. Ele tem muitas limitações motoras e a parte cognitiva preservada. Ele está com 15 anos e se apaixonou perdidamente por uma colega da escola. A menina parou de responder as mensagens dele…E ele só chora e chora…. Aliás, ela me relatou que várias mães de filhos adolescentes com deficiência estão tendo que lidar com esse tema. Filhos se apaixonam, nem sempre são correspondidos e as dores amorosas começam…. É chegado o tempo das dores de amor dos filhos PcDs e dos desafios para as mães.
Esse é um tema recorrente no meu consultório também. Há poucas semanas escutei de uma mãe: “tá sofrendo, mas isso faz parte da vida e do amadurecimento. Nem sempre o amor é correspondido”. Lembro de outra mãe me procurar, aos prantos: “como eu faço para que essa dor toda que ele está sentindo passe?”
Quando a ferida está aberta a gente não consegue imaginar que algum dia ela vai cicatrizar. Podemos até passar algum remédio para tentar acelerar que a ferida cicatrize, mas só o tempo mesmo é que cura as dores do amor e que permite que a gente resgate nossa capacidade de amar.
Algumas coisas não tem receita e nem tem como a gente viver para o outro. Assim, conversar com outras mães e perceber que não se está sozinha nesses desafios sempre é útil.
Nesse mês de mães, espero que cada uma possa ter dez minutos sozinha, de silencio para se reconectar com a própria força e sabedoria para lidar com os novos desafios que a adolescência dos filhos traz. Certamente, as dores de amor nos dilaceram e, todas nós que já sofremos por amor, sabemos disso. Acolher com calma a estreia de nossos filhos na desilusão amorosa é também uma tarefa. Saber escutar e dar colo, sem menosprezar a experiência que está sendo vivida como “coisa de adolescente”, mas sim acolher todas as contradições que o amor traz.
Portanto, amor: “é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer….”.
No dia 21 de maio, realizaremos em Belo Horizonte, no auditório do Med Center, o 1º Encontro de Mães Meu Adolescente. Venha para conversar sobre ser mãe de filhos adolescentes! As informações você encontrará no Instagram, no perfil @meuadolescente. Os ingressos estão sendo vendidos pelo Sympla
Anna Cláudia Eutrópio, @annaclaudiaeutropio.nosevozbh
Psicóloga e doutora em Educação (UFMG), com trajetória de mais de 18 anos na Educação em Sexualidade.
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