“Dois Caras Legais” é uma comédia policial ambientada no final dos anos 70. Além disso, é um filme que transporta para as telas todas as características típicas deste período, com toda sua ingenuidade e malícia particulares. Dessa forma, o cineasta Shane Black (“Homem de Ferro 3”) nos convida a um prazeroso mergulho num universo rico e interessante.
Assim, na trama, à medida que o trabalho para achar Amelia (Margaret Qualley, de “Palo Alto”), uma garota desaparecida, fica cada vez mais complicado, Jackson Healy (Russell Crowe, vencedor do Oscar por “Gladiador”, de 2000) decide dividir a investigação com o atrapalhado Holland March (Ryan Gosling, de “La La Land – Cantando Estações”). Logo, ambos descobrem que o caso de Amelia e a morte de uma estrela pornô estão, de alguma maneira, relacionados. Então, eles se deparam com uma conspiração chocante que atinge até os mais altos círculos do poder.
A caracterização de época é o primeiro ponto que merece atenção positiva. Isso vai dos cenários aos figurinos, da maquiagem aos penteados. Afinal, todos os objetos em cena, desde os carros antigos aos penduricalhos utilizados pelos personagens, tem uma função muito bem concretizada de nos levar a um mundo de figuras excêntricas e divertidas. Porém, que se levam a sério na ficção.
Já o roteiro, escrito pelo próprio diretor ao lado de Anthony Bagarozzi, é inteligente na criação de diálogos que beiram à falta de noção. Mas que funcionam num tom divertido e satírico devido ao perfil dos personagens criados. Assim, a trama se desenvolve de maneira até relativamente leve, apesar das cenas de ação e das doses de violência e nudez. Até porque os momentos mais agitados são conduzidos com agilidade e eficiência pelo cineasta, ainda que ele peque ao se alongar em uma sequencia ou outra.
Por sua vez, Russell Crowe é ótimo como de costume na composição de seu personagem. Inclusive, a dobradinha dele com Ryan Gosling é um dos méritos da produção. Aliás, este se destaca com o jeito pouco inteligente de seu personagem. Assim, diverte sem cair em caricaturas ou maneirismos óbvios de interpretação. Também, Angourie Rice (“O Estranho que nós Amamos”) está bem como a filha de inteligência precoce do protagonista, enquanto Yaya DaCosta (da série “Chicago Med”) rouba todas as cenas em que aparece e mostra firmeza mesmo com pouco tempo de tela. Por outro lado, Kim Basinger (vencedora do Oscar por “Los Angeles: Cidade Proibida, de 1997) está apagada em um papel crucial para a trama, embora seja uma atriz tecnicamente competente.
Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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