No livro Outro Olhar – Reflexões de autista, a autora Sophia Mendonça fala de coisas que parecem simples mas que não são. Não são para o autista. Sophia estava com 18 anos. Hoje ela tem 24.
Fui convidada para o Fórum promovido pela Divisão de Universitários da Soka Gakkai Internacional, ONG da qual faço parte e que trata de assuntos ligados à paz, educação e cultura. Um fato corriqueiro na vida de qualquer pessoa, não para um autista. Nós, autistas, precisamos ter tudo muito bem traçado na mente. O novo pode nos apavorar.
Assim, a primeira coisa a saber é como funciona esse tipo de forum. Isso porque é bem diferente das reuniões das quais estou acostumada a participar. Qual o formato, quem irá, como serão ministradas as palestras? Sem essas informações, um autista pode entrar em pânico.
Aí é que vem o desafio. Existe quem esteja disposto a nos fornecer detalhes que parecem óbvios e que entendam a aparente insegurança diante da pergunta “vai ou não vai”? Por isso, é tão importante que as pessoas mais próximas
nos conheçam e tenham tolerância para fazer um simples convite, de maneira mais detalhada.
Não somos todo mundo, somos autistas, e nos comunicamos de maneira diferente. Entretanto, é verdade que o autista acaba desenvolvendo mecanismos próprios para decodificar o mundo à volta. Mas o preço costuma ser muito alto. Vem um cansaço que beira à exaustão. Sem contar que, vencida essa primeira etapa, e lá estando no evento, vêm outros desafios: muita gente; conteúdo maravilhoso, mas a forma nem tanto. A reunião acaba se estendendo, o que pode ser fatal para o nosso equilíbrio.
Mais uma vez vem a necessidade dos malabarismos para se adaptar a um mundo que teima em ser diferente. Aí, o pior. As conversas intermináveis de minha mãe, os amigos. Tudo seria maravilhoso se não trouxesse uma incômoda sensação de “estou sobrando”.
Para o neurotípico, essa sensação já é difícil de administrar. Para o autista é impossível. Daí, o que deveria ser um programa interessante pode acabar em briga de família.
Estamos no mundo não só para viver, mas para conviver, não é mesmo? A velha técnica de respirar fundo, oxigenar o cérebro e exercitar a tolerância para o bem de quem nos cerca, costuma funcionar. Só uma coisa não dá para mudar: o desgaste que cumprir tarefas aparentemente simples, gera no autista. Como dizem, é a vida. E para vivê-la precisamos de sabedoria.
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Sophia Mendonça é bacharela em Jornalismo e escritora. É também mestranda em Comunicação Social e bolsista da FAPEMIG. Sophia é membro do Afetos, grupo de pesquisa em Comunicação, Acessibilidade e Vulnerabilidades. Foi diagnosticada autista aos 11 anos, em 2008.
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