É preciso pensar e falar sobre Diversidade e suicídio. Eu trabalhei durante 15 anos em uma grande Rádio de Minas. Embora o Código de Ética do Jornalismo, por vezes, fizesse vista grossa à notícia que pudesse desagradar os grandes contratos comerciais da emissora, uma regra manteve-se por muito tempo no universo jornalístico: não podíamos noticiar os suicídios. À época, depois de minucioso estudo, chegou-se a conclusão, que os índices de suicídio aumentavam, nos dias após a divulgação de algum caso de autoextermínio.
No mês de setembro de 2024, a Revista Autismo trouxe uma ampla matéria sobre o Suicídio de Autistas, de Francisco Paiva Júnior. Segundo a reportagem, o suicídio é ‘um problema de saúde pública que precisa ser mais discutido abertamente.‘ Logo, os números atuais clamam por uma mudança de postura de toda a sociedade. Em seu trecho inicial a matéria traz:
Com muita robustez, diversos estudos científicos apontam para um risco muito maior de suicídio entre pessoas autistas, se comparado à população em geral. Apesar de ser uma situação que comumente é subnotificada, os números dão conta de autistas tentarem tirar a própria vida quatro vezes mais que o restante da sociedade, serem hospitalizados por conta dessas tentativas seis vezes mais e efetivamente morrerem num número oito vezes maior que as demais pessoas.
Assim, os dados atuais, comprovam que o suicídio, na sociedade, é um problema de saúde pública. Mesmo que entre pessoas autistas, o número de suicídios seja quatro vezes maior que entre o restante da sociedade.
Diversidade, para entender é preciso conhecer
Abril é o mês da conscientização sobre o autismo. Tudo que nós, autistas e pais de autistas mais queremos é que informações confiáveis alcancem todos os segmentos da sociedade. Afinal, acesso a mais informação, significa a certeza de menos preconceito. Em outras palavras, o respeito à neurodiversidade se consolida para a construção de uma sociedade mais justa, digna e equânime. Além de tudo isso, uma sociedade bem informada torna-se mais criativa para a construção das políticas públicas que atendam as reais necessidades da população.
Autistas inseridos no mercado de trabalho por meio do acesso ao tratamento e à política de inclusão social adequados, contribuem com o crescimento econômico do País. Então, o cidadão autista sai da condição de dependente do Benefício de Prestação Continuada e gera mais riqueza para o PIB do Brasil. A reportagem da Revista Autismo pondera que:
“Entre pessoas com transtorno do espectro do autismo (TEA), estudos científicos mostram que o risco de suicídio é inegavelmente maior e isso estende-se, em muitos casos, a familiares também (levando-se em conta também a herdabilidade genética, pois familiares de autistas têm maiores possibilidades de serem autistas ou terem outras questões psiquiátricas, muitos ainda sem diagnóstico e sem nem levantar
essa suspeita.”
Diversidade e o suicídio nos provocam à reflexão
Se não enfrentarmos essa situação com amplo debate social e transparência estaremos, como sociedade, ceifando vidas de autistas e de suas famílias. E, certamente, estaremos, ainda, contribuindo para um país mais pobre e infeliz. Desse modo, há que se aproveitar o mês de abril, para debates dessa natureza, nos segmentos econômicos, legislativos e sociais. Afinal, sabemos que nem todo autista está apto ao mercado de trabalho, a despeito da quebra de barreiras atitudinais e ambientais. Entretanto, toda a vida importa. Ninguém veio ao mundo para enfeitá-lo e também não veio para torná-lo mais feio. Tudo passa por entendermos qual o propósito de cada vida!
Diante de um pensamento suicida ligue:
CVV – o Centro de Valorização da Vida, número 188
A instituição oferece atendimento pelo telefone 188 (24h por dia e sem custo de ligação), por chat, e-mail e pessoalmente (veja no site cvv.org.br). Nesses canais, são feitos mais de 3 milhões de atendimentos anuais, por aproximadamente 3.500 voluntários, presentes em 20 estados, além do Distrito Federal.

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.