Victor Mendonça e Selma Sueli Silva
*Este texto é dedicado ao saudoso jornalista, apresentador e radialista Ricardo Boechat (1952-2019).
A gente olha para trás e vê que o ser humano é muito completo, ou vai se completando nessa caminhada, e Selma tem um orgulho danado de Victor porque, em função de nossa característica, do nosso cérebro neurodivergente, ele escolheu Comunicação Social como forma de tentar entender o processo da comunicação entre as pessoas. E 16 de Fevereiro é o Dia Nacional do Repórter, que é uma das funções do jornalista. Parabéns!
Podemos observar desde os primeiros programas como o Victor cresceu. Ele conta que no começo estava meio travado, mas agora já está mais comunicativo, falante, sociável.
Quando Selma entrou na faculdade, ela se formou na PUC-MG, havia o vestibular para Comunicação Social e os aprovados podiam escolher entre jornalismo, publicidade e relações públicas até o quinto período. No quinto período, optavam por uma dessas profissões. Selma queria o jornalismo, mas quando chegou ao quinto período achou que ainda não tinha maturidade para ser jornalista. Naquela época, inclusive, ainda era máquina de escrever, da qual ela tinha medo. Então, resolveu fazer Relações Públicas, que foi ótimo, lhe deu um embasamento, uma maturidade. Depois ela complementou o curso de Comunicação por mais dois anos, se formou também em Jornalismo, quando o mercado de trabalho se resumia a rádio, TV, jornal ou revista. Eram os quatro caminhos do jornalismo.
Selma formou-se em 1988. Os jornalistas eram pessoas geralmente mais sensíveis, que entendiam a crônica do cotidiano Dentre eles havia escritores maravilhosos (João Ubaldo Ribeiro, Jorge Amado), jornalistas maravilhosos também (Ricardo Kotcho, Zuenir Ventura). Foi aí, inclusive, que Selma conheceu seu ex-marido e pai do Victor. Era gente da melhor qualidade e uma turma muito bacana foi formada já com a bagagem muito grande para ingressar no mercado do trabalho.
Os jovens que chegam à faculdade são pessoas com opinião própria. São pessoas com facilidade de perceber e sentir as coisas, que têm feeling para acompanhar e pesquisar, em profundidade, as questões da vida.
O mercado nos anos 1980 era bem restrito. Não era fácil começar, em um veículo de comunicação. Selma conheceu o apresentador de um grande programa de rádio de Belo Horizonte, na maior emissora de Minas Gerais, e ele a convidou para ir participar do veículo de rádio. Daí se abriu, se descortinou um mundo que naquela época sofria com preconceito: O radialista era o jornalista menor, o meio era promíscuo e outros absurdos, tudo isso na cabeça das pessoas. A verdade é que o mundo do rádio é maravilhoso. A interação com os ouvintes é uma das coisas mais gratificantes. Os ouvintes estão com a gente até hoje. Um grande abraço para todos os ouvintes do rádio que migraram para o “Mundo Asperger”.
O rádio exibe uma fidelidade e um mundo mágico porque, ali, a gente lida com a palavra, não tem a imagem para respaldar o acontecimento. Você lida com a palavra e com o imaginário do ouvinte. Conclusão: a riqueza é profunda. Victor parabeniza a mãe, que sempre foi um exemplo de comunicadora, ele considera o trabalho de Selma no rádio maravilhoso. O currículo dela fala por si, inclusive. Ele lembra que a mãe foi apresentadora, também, de um programa de três horas de duração em que exercitou essa profissão de repórter com muita competência e eloquência. Selma diz que foi um desafio, porque ela fazia participação num programa e pensava: “Será que eu dou conta de um programa de três horas?” A gente dá… A gente dá porque a gente tem isso no sangue, porque é bom, porque a gente gosta. Então, na vida, é boa vontade, estudo e sempre tem gente para orientar e ajudar. E foi assim, com boa vontade, estudo e gente para orientá-lo e ajudá-lo que Victor conseguiu chegar ao mercado de comunicação que hoje é bem diferente, bem mais amplo.
O mercado do repórter, agora, é muito voltado para o empreendedorismo, muitas vezes a gente filma a entrevista sem edição, aquele vídeo rápido para as redes sociais. Você tem que prestar atenção no conteúdo daquele fala para preparar a próxima pergunta. Você tem que pensar duas vezes, pensar no que a pessoa está falando e pensar, também, no que você vai perguntar logo em seguida. Isso é um desafio para Victor, até pela própria timidez num primeiro momento, mas que hoje ele acha que “tira de letra”, sem falsa modéstia.
Uma coisa que Selma acha interessante é que ela sempre trabalhou no rádio formal, e Victor trabalhou na Webrádio Comunicativa do UNI-BH, a convite da professora Wanir Campelo. Fazendo um paralelo entre a vida profissional de ambos, quando Victor recebeu fazer Jornalismo, muita gente perguntou à Selma: “Você vai deixar?”. É um mercado sofrido. Ela respondeu que o mundo é outro, o leque se abriu: é Internet, a comunicação é mais ágil.
Victor pontua: O que é a essência do trabalho do repórter? O que não muda desde aquela época e até hoje não deve mudar? É passar informação de ponta, o melhor da informação e da notícia para você que está nos acompanhando. A gente já teve entrevistas no “Mundo Asperger” com advogados, professores, médicos, autistas… Por que essa é a nossa missão: o repórter, o jornalista tem uma função social também, e é muito importante.
Selma lembra que é essa missão social do jornalismo social que encantou tanto a ela quanto o filho. A nossa função é trazer vários ângulos de um mesmo assunto para que você cruze informação e chegue à sua própria conclusão. Porque a gente não está aqui para vender ideias, para forçar ideias. A gente está aqui para complementar, para interagir, que é a coisa melhor do mundo, e a vida de repórter é essa interação com o seu entrevistado. Eles acham que o bom repórter é aquele que coloca o entrevistado em saia justa. Não necessariamente. O bom repórter é aquele que extrai do entrevistado ou que interesse ao público. Porque o importante é o público. E o nosso compromisso é com vocês. Feliz Dia do Repórter para todos os repórteres e um grande abraço para todos nós!
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