Registro do Mini Curso sobre Escritas Autistas, de Sophia Mendonça, Selma Sueli, Gustavo Ruckert, na Universidade Federal de Pelotas - UFPel - Dezembro de 2024
No Dia Mundial do Autismo é importante a reflexão sobre a Diversidade e Representatividade. E é o que pretendo fazer aqui, junto com os leitores do @PortalUai. Minha família foi apresentada ao fascinante universo do autismo em 2008. Ou seja, no ano do diagnóstico de Sophia Mendonça. Certamente, esse universo nem sempre foi fascinante. No início, foi para a família, o contrário. Em outras palavras, foi, antes, universo de grande preocupação.
Com o tempo e depois de muito estudo e entrevistas com profissionais, encontramos a essência da pessoa, ou melhor, do ser humano. Identificamos outros casos na família, inclusive o meu, diagnosticado em 2016. Logo, descoberto 8 anos após o diagnóstico de minha filha. A partir daí, percebemos que tal universo continha os mesmos desafios e possibilidades de conquistas do chamado universo neurotípico.
Isso devido ao fato de que todo o ser humano, independente de suas especificidades, traz em si a riqueza contida em cada vida humana. São, aliás, essas vidas que compõem a riqueza da sociedade, por meio de suas possibilidades diante das diferenças pessoais.
Não somos uma sociedade homogênea. Ainda bem já que o avanço acontece, exatamente, a partir de nossas diferenças. Embora esse seja um fato, temos também, semelhanças que nos unem, como um todo. Assim, nossas semelhanças, essencialmente nossa humanidade, é o que nos convida à descoberta de nossas especificidades. A partir dessa descoberta, ficamos mais ricos e mais criativos no desenvolvimento de uma sociedade equânime e justa. É importante que nós não percamos essa necessidade de vista.
Quando a pessoa dentro do Espectro do Transtorno do Espectro do Autismo, TEA, recebe o diagnóstico na fase infantil ou adolescente, tal diagnóstico recai sobre toda a família. Afinal, antes dos 18 anos, nossos pais são os responsáveis por nós. E, claro, não acontece de maneira diferente quando se é autista.
Dessa forma, é comum que maiores, os filhos, autistas ou não, passem a questionar os pais e suas atitudes. Faz parte do desenvolvimento familiar. O que está fora dessa linha são as agressões e culpabilizações que os pais possam receber nesta fase. Certamente, excluímos desse pensamento, erros por negligência ou má fé. Esses, sim, devem ser questionados e denunciados, quando for o caso.
Dessa forma, até os 18 anos, às vezes menos, em famílias progressistas, o protagonismo é dos pais. São eles a revolver céus e terras para garantir ao filho o direcionamento produtivo e lúdico de suas habilidades. Os pais, aqui, devem jogar luz nessas habilidades e cobrar da sociedade o suporte
para as limitações impostas pelo TEA, num mundo pouco ou nada acessível.Entretanto, depois de adulto, a pessoa autista que tenha possibilidades de se expressar, pode e deve assumir o protagonismo de sua vida e luta pela diversidade, representatividade e inclusão. Nesta fase, as críticas aos pais e embates desnecessários costumam não se mostrarem úteis. O importante é que a voz da pessoa autista forneça informações e esclarecimentos necessários a um caminho mais assertivo, às famílias, educadores e profissionais da saúde. O que, certamente, se estenderá à toda a sociedade.
Da mesma forma, é lamentável que pais e familiares de pessoas autistas, abaixo dos 18 anos, travem bate bocas acalorados com autistas adultos nas redes sociais. Agindo assim, ele desconhece que o próprio filho será um adulto amanhã. E, assim sendo, o filho terá suas próprias opiniões, sem que isso dê direito a ninguém de atacá-lo. Não reconhecer o adulto autista é agir com capacitismo diante do próprio filho, inclusive. Opiniões diferentes ou até divergentes são sempre bem vindas, no sentindo da expansão de nosso cérebro. Mesmo que sejam para refutar e, melhor ainda, para enriquecer o debate.
Somente diante de nossa união, o que não significa pessoas com o mesmo pensamento, vamos conseguir formar uma sociedade mais digna e humanizada. As diferenças nos convidam a criar alternativas, com respeito, justiça, confiança, dignidade, criatividade e bom humor, espírito de procura, equanimidade e descoberta de nossas semelhanças para, com humanismo e amor fraternal, lutarmos e crescermos juntos, na certeza de um outro mundo possível.
Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.
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