A palavra me alimenta a alma. Para além disso, a palavra nomeia minhas impressões e imprecisões. Sobretudo, quando a vida se apresenta nas entrelinhas como naquele ditado popular: “Deus escreve certo por linhas tortas”. Assim, é na palavra que eu encontro respostas. Mas não em qualquer palavra. Na palavra poética.
A palavra viva me atravessa. Certamente, um atravessamento profundo para além dessa existência. Então, ela se materializa em linguagem. Mas, também, se apresenta distinguindo significados, como peças de uma quebra-cabeça encaixadas. Ou seja, ela me ressignifica, reconstrói a minha identidade. Ela me traduz e me seduz. Sonoramente falada, cantada ou declamada. Por fim, ela me hipnotiza.
Minha devoção à palavra narrada começou na infância. A menina que mora em mim, sentava-se no chão da sala de casa em frente à TV ligada. Queria beber no manancial da literatura. Através da oralidade, da melodia da voz da Contadora de Histórias Bia Bedran. Como um beija-flor que com a ponta do bico, deposita o pólen nas flores. E assim, eu também fui fecundada pela palavra lançada ao meu coração. Como diz a sabedoria ancestral africana: “A palavra quando sai do coração chega ao coração.”
Por exemplo: Ouvir histórias, preencher meu imaginário de possibilidades, no tempo suspenso pelo “era uma vez”, aguçava ainda mais minha necessidade de estar em contato com outras narrativas. Se havi a maior prazer do que me transportar para o mundo iridescente da literatura, eu desconhecia. A relação social e afetiva estava estabelecida entre mim e a poesia de maneira orgânica.
À medida que fui crescendo, passei a colecionar palavras, como quem tem um baú de tesouros! Ainda hoje, mantenho os ouvidos atentos para captar em meio às falas dos radialistas, jornalistas, cantores, escritores, uma palavra nova. Ah! E quando isso acontece, é como se eu estivesse caminhando pela areia da praia à procura daquela conchinha, e encontrasse aquela diferente de todas que eu já tinha.
Escritores de literatura ocupam um lugar especial no meu coração. Me emocionam. Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Manoel de Barros, Chico Buarque, Milton Nascimento, Clarice Lispector, Adélia Prado, Rupi Kaur, Clarissa Pinkola Estés, Ana Elisa Ribeiro, Tatiane Moreira… As palavras poéticas me desnudam, reviram do avesso, revelam cicatrizes, curam feridas, provocam mil e uma noites de amor e ódio, escancaram e clarificam o meu pior e o meu melhor.
Para finalizar, eu tomo emprestados os versos do poeta Paulo José Cunha para me declarar devotadamente apaixonada pela palavra literária:
“Toda poesia é semente. Nenhum verso vira pó. Todo verso vira pólen.”
Roberta Colen Linhares, natural de Belo Horizonte – MG, casada, mãe de Arthur e Isis, contadora de histórias pelo Instituto Aletria, e atualmente é graduanda do Curso de Letras na PUC Minas.
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Como é bom te ler, Roberta. Também sou devota da Palavra e compreendo cada sentir que você carrega nelas.
Beatriz, obrigada!