Dança livre alivia o estresse e cria possibilidades - O Mundo Autista
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Dança livre alivia o estresse e cria possibilidades

Victor Mendonça e Raquel Romano

Victor Mendonça: Hoje, a gente vai falar de mais um tema que eu amo: a dança. A dança como uma expressão livre, uma expressão criadora em que você descobre e redescobre várias possibilidades. Eu lembro que, uma vez, eu participei de um congresso sobre autismo, dança e educação com a professora Anamaria, da Belas Artes da UFMG. Foi maravilhoso e lá eu descobri bastante coisa. E com a Raquel, como arte educadora, acontece da mesma forma. A gente vem trabalhando essa questão da dança, que embora seja uma dança livre que você faz com a sua espontaneidade e com seu instinto, vamos dizer assim, é uma dança que você vai aprendendo, na medida em que você vai construindo uma estética própria.

Raquel Romano: Ah, eu lembro sim, foi muito bom! A gente dançava; você dançava com uma bola enorme como se fosse o mundo em suas mãos.

Victor Mendonça: E eu fazia cada coisa, né? Que eu nem sabia que tinha coordenação motora para fazer. Mas eu fazia e descobri minha coordenação com essa bola.

Raquel Romano: Nossa, por que se preocupar com a coordenação? Ninguém foi lá te ensinar uma técnica: “Faça assim, um passo para esse lado, para o outro, conte tantas vezes. Não”. A música é que foi dando o tom, sua respiração, o seu corpo, a sua energia interna saindo nesta comunicação através do gesto, do lúdico, da expressão, tudo está aí, o tempo todo. Então, a dança pode proporcionar um prazer imenso e, além de tudo, aliviar a pessoa do estresse. Aliviar dos bloqueios, a dança pode ensinar a linguagem de seu corpo para você mesmo. Então, esse dançar que para você é algo tão natural, todos os povos primitivos, os indígenas sempre tiveram uma forma de comunicação com a natureza, comunicação com os outros com rituais muito sérios e lúdicos ao mesmo tempo. Agora, me pergunto alguém estava ali forçando uma técnica que tem que ser assim, assim? Não.

Na arteterapia, a gente trabalha todas as linguagens, inclusive a dança. Essa dança que dialoga com objetos, dialoga com o ar, com o tempo, com o infinito. Ela vem trazendo para o seu imaginário um mundo novo. E aí, você ganha uma leveza enorme, uma espontaneidade enorme que torna você é capaz de levar essa leveza para os seus gestos diários, para a sua comunicação diária com a vida, com o mundo. E trazer uma harmonia interior, isso que é o mais legal, não é? Você sentir como isso volta para você. É maravilhoso. E a dança é outro meio de expressão que devia ser uma prática regular nas escolas. Não para você ser um bailarino; se desenvolver o talento e a criança ou o jovem resolver ser um bailarino, ótimo. Mas, deveria ser direito de todas as pessoas.

Victor: Porque muita gente não faz arte por ter essa impressão de que requer muita técnica, algo muito engessado que, na visão profissional pode até ser, mas não estou falando disso, estou falando do lúdico, da descoberta, do “de brincadeira”, sendo que a brincadeira é coisa séria.

Raquel Romano: Exatamente! Para descobrir que você pode inventar a sua dança. Isso é que é o mais lindo. Eu posso trazer esse meu corpo para o chão, para o ar, como eu quiser, e descobrir a minha forma de dançar. Esse é o grande prazer.

Victor: Maravilhoso você descobrir o seu poder. E então você percebe que, se eu posso fazer isso com a dança, você vai desenvolver em outras coisas da sua vida; você libera, como diz a Raquel. Eu me lembro de uma professora de dança da França, onde um aluno tinha uma deficiência física e apenas se movimentava com um olho. E com um olho só ele conseguia fazer os melhores arranjos. Então, é possível e acessível buscar essa sensibilidade na dança também.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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