Arte e entretenimento

Crítica: “Tudo é Justo” (2025)

“Tudo é Justo”, a nova série da Disney+ (Hulu) com um elenco estelar e a grife de Ryan Murphy entre os realizadores, mal estreou e já acumula o título infame de “uma das piores séries do século”.

No entanto, ouso discordar parcialmente do consenso. Afinal, o drama jurídico sobre socialites e advogadas, estrelado por Glenn Close (oito vezes indicada ao Oscar) e a estrela de reality que virou atriz, Kim Kardashian, não é o desastre completo que apontam.

A série lança um olhar sobre os dramas de divórcio de uma parcela abastada da população estadunidense. Assim, há algo de curioso em observar nas telas os problemas específicos dessas famílias ricas. Isso porque é uma experiência distante da maioria do público. E, também, por trazer uma ótica feminina para o centro da narrativa. Além disso, o elenco é um luxo: da vencedora do Emmy Sarah Paulson (“O Povo Contra OJ Simpson”) a Teyana Taylor (já cotada ao Oscar por “Uma Batalha Após a Outra”); da indicada ao Oscar Naomi Watts (“O Impossível”) à vencedora do Emmy Niece Nash (“Dahmer”).

Um Veredito Quase Unânime para “Tudo é Justo”

Ainda assim, pareço estar sozinha (ou quase) nessa apreciação. A recepção da crítica internacional foi brutal.

  • Em sua avaliação de zero estrelas, Ben Dowell, do The New York Times, observou que a série parecia ter sido escrita “por uma criança pequena que não conseguia escrever ‘bumbum’ na parede”.
  • Kelly Lawler, do USA Today, escreveu: “É tão forçada, artificial e constrangedora que nem mesmo uma taça de vinho e doces de Halloween conseguem torná-la minimamente agradável de assistir”.
  • O The Wrap questionou se Murphy estaria “envolvido em algum tipo de experimento social para ver se consegue produzir a série mais obviamente terrível possível, paga pela Disney”.
  • Em sua crítica de uma estrela, Ed Power, do The Telegraph, resumiu a obra como “uma zona de desastre de trama melodramática e diálogos repugnantes”.

Série de Ryan Murphy com Kim Kardashian é quase um “Reality” de Luxo

Ryan Murphy, criador de sucessos como “American Horror Story”, trabalhou com Kim Kardashian na última temporada da antologia e decidiu promovê-la a protagonista aqui. O resultado é que “Tudo é Justo” funciona menos como um drama jurídico e mais como um reality show encenado. Com isso, a série revela-se altamente artificial. Dessa forma, estão lá as roupas de grife, as mansões suntuosas e os dramas fabricados que parecem saídos de um gerador de roteiros de IA.

Como alguém que também aprecia esse tipo de entretenimento para relaxar, consigo me divertir com a série, mesmo sem reconhecer nela grande propósito. E, embora meus reality shows preferidos sejam outros (gosto mais de competição e humanidade), não vejo problema em se entregar ao ócio, a um balde de pipoca e a uma dramaturgia descompromissada. Claro, desde que isso não exclua a fruição de de obras mais reflexivas e cultas.

“Tudo é Justo” certamente não é o melhor trabalho de nenhum dos envolvidos. Mas é, no mínimo, fascinante como conseguiram reunir tantos talentos para algo tão universalmente considerado descartável.

Avaliação

Avaliação: 3 de 5.

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Autora

Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UFPel). Idealizadora da mentoria “Conexão Raiz”. Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.

Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).

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