Autismo

Crítica: O Exorcista – O Devoto (2023)

“O Exorcista – O Devoto” (2023) custou mais de 400 milhões de dólares apenas pelos direitos da franquia “O Exorcista” (1973). Afinal, o diretor David Gordon Green já havia feito algo similar – e, com até algum charme e competência, pelo menos nos dois primeiros filmes – em “Halloween”. Ou seja, ele criou uma nova trilogia que remete diretamente aos acontecimentos do filme original. Porém, ela também trazia pares mais contemporâneos na reimaginação de um clássico do terror.

Acontece que “Halloween” trazia novas possibilidades a serem exploradas. Isso ocorre se considerarmos o contexto da obra original, que dialoga com temas pertinentes aos anos 2010/2020, como o medo da violência de um assassino frio e cruel.  Já no caso de “O Exorcista”, essa relação é mais difícil de se concretizar se observarmos um maior ceticismo das plateias atuais em relação a temas do catolicismo.

Qual a história de O Exorcista – O Devoto, de 2023?

Assim, “O Exorcista – O Devoto” é a sequência do clássico de 1973. Essa adaptação do best-seller de William Peter Blattyn focava em uma menina de 12 anos que era possuída por uma misteriosa entidade demoníaca, o que fez a mãe buscar a ajuda de dois padres para salvá-la. Já na versão de 2023, desde a morte da esposa grávida em um terremoto no Haiti, há 12 anos, Victor Fielding tem criado a filha Angela sozinho.

Só que Angela e a amiga Katherine desaparecem na floresta e retornam três dias depois sem memória do que aconteceu com elas. Isso desencadeia uma série de eventos que obrigará Victor a confrontar o mal. E, em meio ao terror e ao desespero, buscar a única pessoa viva que testemunhou algo parecido antes.

Sequencia de O Exorcista é fracasso artístico e exemplo de oportunismo cinematográfico

Mesmo com o ceticismo atual das plateias, ainda havia a possibilidade de acertar e surpreender. Isso porque o cineasta William Friedkin, no original, conseguia tocar no medo da possível existência de forças ou energias negativas independentemente da nomenclatura religiosa. A questão é que o terror psicológico visto em “O Exorcista”, de 1973, era tão forte que poucos filmes conseguem se aproximar da experiência nesse sentido. Mas, “O Exorcista: O Devoto” parece nem tentar respeitar ou conversar com esse legado. Dessa forma, o filme de 2023 é tanto um fracasso artístico quanto, o que é ainda pior, um exemplo do que há de mais oportunista no terror contemporâneo.

Eu não imaginava que o desastre seria tão expressivo porque há a presença de Ellen Burstyn. Afinal, ela foi uma das protagonistas do original de 1973. E já havia recusado muitas participações em sequências. Dessa vez, o cachê era extremamente alto e havia a certeza de que o filme aconteceria com ou sem ela. Então, a atriz renomada resolveu transformar o limão e a limonada ao doar toda essa verba para um programa de bolsa de estudos. Só isso mesmo para justificar a existência deste longa-metragem.

Até Ellen Burstyn é digna de pena nesta continuação

Então, aos 90 anos, Ellen Burstyn tem uma participação muito mal explorada neste filme. Para piorar, ela ainda é obrigada a falar frases de autoajuda que em nada acrescentam à narrativa. E o filme? Parece mais uma junção aleatória de acontecimentos sem critério nem método. E pior: sem criar uma conexão que convença com o tema do exorcismo que permeia toda a franquia.

Avaliação

Avaliação: 0.5 de 5.
Sophia Mendonça

Autora da Crítica

Sophia Mendonça é uma criadora de conteúdoescritora e desenvolvedora brasileira. É mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.

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