Crítica de Frankenstein, com Jacob Elordi, na versão de Guillermo Del Toro. O romance Frankestein foi escrito por Mary Shelley aos 18 anos.
Em “Frankenstein”, de Guillermo del Toro, Victor Frankenstein é um jovem médico que cresceu traumatizado pela morte precoce da mãe. Afinal, o pai dele, um dos mais cirurgiões de maior prestígio da época, não conseguiu salvar a esposa. “Ninguém consegue vencer a morte”, é a resposta do homem quando o filho o questiona.
Victor, aliás, se ressente do pai não lhe dar o mesmo afeto que o irmão, William. E, embora ele cresça em um contexto que considera uma perspectiva biológica da vida em detrimento de sentimentos ou emoções, o conto de fadas que vemos se desenvolver na reimaginação magistral de Guillermo Del Toro sublinha o papel dos afetos nas descobertas. Afinal, toda a amargura do cientista serviu para ele criar uma criatura imortal. E também nos mostra que o verdadeiro monstro é aquele homem que, ao brincar de Deus, abre mão da própria humanidade.
A autora britânica Mary Shelley escreveu “Frankestein” aos 18 anos, entre 1816 e 1817. A primeira publicação, com isso, aconteceu em 1818. Apesar da pouca idade, Shelley já tinha muita bagagem de vida. Assim, experiências como engravidar de um homem casado aos 16 e o suicídio de sua irmã provavelmente se aliaram à inquietação juvenil. Dessa forma, ajudaram a moldar uma obra que se tornaria referência para o gótico, o burlesco e o terror. Isso porque o romance discute temas como os limites da ciência e a busca incessante por conhecimento, o preconceito contra a diferença, os perigos da irresponsabilidade científica e a busca por amor e aceitação.
O estilo do cineasta mexicano Guillermo Del Toro, vencedor de três Oscar, remete justamente ao conto de fadas gótico. Além disso, o diretor e roteirista consegue extrair beleza e poesia do que poderia ser julgado apenas como grotesco. Foi assim que ele deu vida, por exemplo, a uma versão própria de “A Bela e a Fera” no reflexivo filme de fantasia “A Forma da Água”. Essa habilidade de transformar o horror em conto de fadas é o que torna a visão de Del Toro sobre Frankenstein tão interessante.
O longa-metragem de 2025 oferece uma experiência narrativa de beleza ímpar. Isso porque Del Toro evidencia a força da história e dos diálogos. Para isso, ele apoia-se no senso estético admirável e nas excelentes interpretações. O diretor e roteirista também não teme algumas pequenas liberdades em relação à obra original. Na verdade, essas opções potencializam o impacto emocionante do enredo.
A equipe de produção e figurino, que inclui colaboradoras frequentes como Tamara Deverell e Kate Hawley, executa com talento esse olhar. Além disso, os enquadramentos são banhados nos tons de vermelho e preto favoritos do diretor. Tudo isso resulta em um pesadelo visual estonteante, que se alia à trilha sonora precisa de Alexandre Desplat.
O elenco também brilha. Por exemplo, Oscar Isaac nos mostra que a obsessão de Victor não vem apenas do esforço científico, mas principalmente da busca pelo respeito e admiração da própria família. Assim, o personagem exibe traços vilanescos e maníacos sem jamais perder a complexidade. Já Mia Goth e Jacob Elordi protagonizam alguns dos mais belos momentos do filme. Elordi, em particular, está sublime ao expressar tanto a raiva e o poder do monstro quanto a sensibilidade e a inteligência dele.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UFPel). Idealizadora da mentoria “Conexão Raiz”. Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).
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