Arte e entretenimento

Crítica: Fala Sério, Mãe (2018)

A premissa de Fala Sério, Mãe é interessante ao abordar o amadurecimento de uma jovem e a relação entre mãe e filha. Tanto um tema como o outro já geraram produções de alto nível no cinema. Isso do drama à comédia. Exemplos não faltam, de Lady Bird: A Hora de Voar ao clássico Se Eu Fosse Minha Mãe e seu remake, que no Brasil recebeu o título de Sexta-Feira Muito Louca. Porém, é que, em vez de explorar a fundo as agruras da relação entre as personagens de mãe e filha vividas por Ingrid Guimarães e Larissa Manoela, os realizadores de Fala Sério, Mãe optam por uma abordagem superficial. Isso resulta em um filme carregado de estereótipos.

Fala Sério, Mãe é carismática crônica sobre crescimento dos filhos

Assim, o longa-metragem descreve as queixas e alegrias de uma mãe coruja chamada Ângela Cristina. Isso em relação à filha primogênita Maria de Lourdes, a Malu. Além disso, aborda as teimosias e o sentimento de opressão desta em função dos cuidados, muitas vezes excessivos, de sua genitora. Com isso, o filme fatos que acontecem no dia-a-dia entre pais e filhos. Da separação dos pais à perda da virgindade, Fala Sério, Mãe é quase uma crônica sobre o crescimento dos filhos.

O filme agrada enquanto entretenimento passageiro e até chega perto de emocionar, principalmente por causa das atrizes. Porém, uma análise mais aprofundada não poupa a percepção de evidente machismo no roteiro. Isso porque a mãe, que faz parte da dupla de protagonistas, tem como maior “prêmio” por seu cuidado e ações a felicidade da filha em detrimento do próprio bem-estar. O que ocorre mesmo com ela desagradando Malu em muitos momentos, tendo que lidar com as consequências disso e colocar em segundo plano suas próprias realizações.

Filme decepciona pelo roteiro machista e que pesa a mão nos estereótipos

Enquanto isso, o pai interpretado por Marcelo Laham segue à risca o papel de coadjuvante, para não dizer quase figurante, ao seguir com a própria vida e ter o prazer de compartilhar os momentos mais significativos da vida da filha. Isso acontece embora ele não faça o movimento de ser próximo a ela e cuidá-la. Este é o aso contrário do que ocorre com a personagem de Ingrid Guimarães.

Este ponto fez-me lembrar de Orson Welles no que tange à reflexão de que a arte imita a vida,e a vida imita a arte. Afinal, não são raros, na vida real, os casos de pais que, mesmo ausentes, são ovacionados socialmente. Já as mães que se dedicam quase que por completo à criação dos filhos não são vistas como fazendo mais que a obrigação. E ainda, devem lidar com as intensidades e aspectos negativos da relação com eles.

Avaliação

Avaliação: 1.5 de 5.

Trailer

Autora da Crítica

Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.

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