Emília Pérez, rival de Ainda Estou Aqui no Oscar, é o filme mais polêmico do ano. Atrizes não conseguem minimizar abordagem superficial.
Desde o anúncio das indicaçṍes ao Oscar, muita gente me pediu para falar sobre Emília Pérez. O filme, do diretor francês Jacques Audiard, conta a história de um chefe de cartel mexicano que, por apresentar incongruência de gênero, pede ajuda a uma advogada para realizar sua transição. Assim, torna-se a mulher que sempre foi em essência e, além disso, ganha a chance de viver uma nova vida, com novas ações e atitudes.
O longa-metragem tem uma ideia interessante no centro e mostra-se bem-intencionado ao querer trazer à pauta uma coleção de temas socialmente relevantes. Dessa forma, ele traz a ideia que para muitos é abstrata da incongruência de gênero à hostilidade do mundo real. Além disso, apresenta reflexões sobre como toda vida é digna de respeito e que um juízo de valor sempre vai se basear em um recorte e desconsiderar o todo. Tudo isso reforça a mensagem de que todos podemos melhorar e nos transformar como seres humanos. Assim, a obra envolve graças aos bons números musicais e às atuações sólidas de Karla Sofia Gascón e Zoe Saldaña.
O problema é que todas as ponderações aparecem misturadas de uma maneira um tanto quanto novelesca na tela. Dessa forma, temas como a violência no México e a transexualidade não recebem o aprofundamento necessário. Esse acaba se revelando um problema grave, porque tira a credibilidade na abordagem de temas tão sérios.
Além da falta de cuidado com as expressões idiomáticas mexicanas, há um momento especialmente problemático em que o jeito violento do protagonista aparece na tela, mesmo após a transição. A cena é lamentável porque, jogada de um modo aleatório e naturalizado na história, passa a impressão de que há uma natureza machista e violenta da qual o personagem não consegue fugir.
O descuido acaba por prejudicar até mesmo a interpretação primorosa de Karla Sofia Gascon. A atriz é a responsável por conferir autenticidade e calor humano à transição. É ela quem nos mostra que a protagonista nunca foi feliz em ter que vestir a carapuça feminina. E nos convence de que, quando pode performar a própria feminilidade, ela automaticamente tem a chance de evidenciar os aspectos mais calorosos de sua personalidade.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça.
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