Herança é um filme que não sabe conferir verossimilhança às histórias que pretende contar. Assim, passa a impressão de uma história mal costurada e confusa, que desperdiça até o potencial de entretenimento curioso. Dessa forma, acompanhamos o que acontece após a morte repentina de Archer Monroe (Patrick Warburton), um homem poderoso e rico.
Porém, a primeira surpresa ocorre quando, na leitura do testamento, percebemos que o filho e a filha dele não foram tratados com igualdade. Isso porque ele deixou 20 milhões para o rapaz, William (Chase Crawford), que é um político em disputa acirrada pela reeleição. Mas deixou apenas 1 milhão para a filha Lauren (Lily Collins). Esta é uma promotora de Nova York conhecida por processar os poderosos e ricos. Ou seja, pessoas como o pai dela
Logo vemos em flashbacks Lauren discutindo com Archer. Afinal, ele queria que ela trabalhasse para um escritório de advocacia de prestígio e ganhasse muito dinheiro ao representar magnatas de Wall Street. Por isso, o pai diz que o cargo de promotora estava abaixo da capacidade dela, embora no momento da morte ela esteja assumindo o papel principal em um grande caso contra um vigarista de Wall Street. Afinal, ela mostra-se muito mais preocupada com as vítimas e os familiares do que com banqueiros e corretores.
Aliás, Lily Collins retrata Lauren como uma jovem profissional firme e disciplinada, que não perde a frieza mesmo quando está sob pressão. Assim, ela não parece surpresa nem incomodada com os termos do testamento. Porém, a situação ganha novos contornos quando o advogado da família (Michael Beach) chama Lauren e revela que Archer também deixou para ela envelope com uma chave e um pen drive. Então, ele sugere que essa chave vai destrancar uma bagunça que ele não conseguiu organizar.
Esta chave abre uma porta em uma parte remota da propriedade e leva a um esconderijo subterrâneo assustador. Lá dentro, há uma cela de prisão, com um homem de rosto esquelético e com a barba por fazer (Simon Pegg), que promete contar a Lauren sua história se ela lhe trouxer bife e torta de limão. Este é o mote para uma série de revelações sobre o passado de Archer vir à tona.
A partir de então, o filme Herança tenta se sustentar no talento de Lily Collins, da série “Emily em Paris”. Mas, apesar de ser uma atriz carismática, as escolhas de papéis que ela faz não costumam aproveitar bem os atributos dramáticos da artista. Por exemplo, no caso deste filme, a protagonista recebe um tratamento tão inconsistente do roteiro, que em vez de se tornar complexa e instigante acaba soando apenas como uma construção visivelmente artificial para dar conta das reviravoltas da trama.
Então, a atriz não consegue dar forma à personagem de uma maneira convincente. Ou seja, ela parece inocente nos momentos de maior frieza que o papel exige e não consegue imprimir a força e impetuosidade que a protagonista determina. Além disso, a interpretação de Simon Pegg não traz a densidade que um papel tão crucial à trama deveria ter para cumprir o objetivo de aguçar as plateias no desvendar dos segredos. Sem contar que as participações de Connie Nielsen e Chace Crawford, como a mãe e o irmão de Lauren, não recebem nem a atenção nem o tempo de tela necessários para que os atores consigam contar a história desses personagens com o impacto necessário. Dessa forma, é difícil ter empatia pelo enredo. Assim, “Herança” soa como mais um passatempo em meio a tantos da Netflix. Portanto, não há nada de especial aqui que leve ao engajamento das plateias com o que vemos na tela.
Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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