Arte e entretenimento

Crítica do Filme: Fantasmas e Cia

Apesar do título despretensioso ou até em consonância com ele, “Fantasmas e Cia” é um filme de terror deliciosamente peculiar. Dessa forma, a obra desafia o cinema típico do gênero que vemos hoje, como é comum nos trabalhos do cineasta Christopher Landon. Afinal, o diretor rejeita a noção de terror inteligente que vemos gerar bons frutos nos cinemas. Em vez disso, ele é autoral ao imprimir uma outra energia às próprias obras. Esta é uma tonalidade bem mais leve e alegre que reina nesta produção da Netflix.

Christopher Landon mistura comédia e terror em Fantasmas e Cia

Assim, “Fantasmas e Cia” mescla comédia e terror. Mas não de um jeito que remete ao terrir de Sam Raimi, responsável por “A Morte do Demônio” e o maravilhoso “Arraste-me Para o Inferno”. Isso significa que, enquanto Raimi vai aos extremos do riso e do medo por meio da escatologia e do senso de humor macabro, Landon aposta numa ingenuidade bobinha para cativar as plateias. Aliás, este exemplar atinge os melhores momentos da diversão com piadas muito tolas, sem serem apelativas no besteirol, mas que de tão bobinhas e bem contextualizadas à geração Z despertam sorrisos genuínos.

Também, este longa-metragem se beneficia ao trazer ao protagonismo às percepções de uma família negra, o que não é tão comum em Hollywood. E mesmo que o cineasta não se aprofunde na questão de raça do jeito que um Jordan Peele faria, e nem seja essa a ideia aqui, o simples fato de partirmos de um outro lugar de fala dá nova forma à narrativa. Com isso, “Fantasmas e Cia” se inicia mostrando a mudança da família Presley e os desafios do pai Frank (Anthony Mackie) em estabelecer um relacionamento saudável com o filho Kevin (Jahi Di’Allo Winston).

Fantasmas e Cia moderniza os filmes de terror e comédia

Então, Kevin explora o sótão e encontra um fantasma que habita o local. Este personagem se chama Ernest (David Harbour) e, embora não possa falar, assombra pessoas desde que morreu. Mas, o que é mais engraçado e inteligente do que seguir as convenções do terror, Kevin não fica com medo. Afinal, como jovem moderno, ele filma Ernest e logo o espectro se torna viral. Este é um exemplo das ideias muito bem assimiladas pelo cineasta, que gera desde memes divertidos a uma participação hilária de Jennifer Coolidge

. Aliás, como é bom acompanhar esta ótima comediante voltar aos grandes papéis no cinema após vencer o Emmy pela série The White Lotus.

Daí, o filme muda o foco e o tom de uma maneira até abrupta demais. Porém, permanecer interessante ao trazer uma cientista paranormal e o chefe dela na CIA (Tig Notaro e Arnold Schipley) desvendando os mistérios por trás do assassinato de Ernest. Assim, a segunda metade da projeção tem mais ação e menos humor, além de ser bem mais próxima ao lugar comum.

Segunda parte de Fantasmas e Cia é bem diferente da primeira

Mas essa parte não é ruim, porque tem uma direção firme de Landon e boas atuações, incluindo de David Harbour, que mostra segurança e naturalidade com um papel limitado pela falta de oralização. Além disso, acompanhar as relações entre pais e filhos enternece as plateias e dá uma nova cara à produção. Então, mesmo que haja algumas inconsistências, Fantasmas e Cia é um daqueles raros filmes de terror que também podem ser indicados como um belo entretenimento familiar.

Avaliação

Avaliação: 3.5 de 5.

Trailer

Trailer do filme Fantasmas e Cia, disponível na Netflix

Autora da Crítica

Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.

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