O horror das tempestades no Rio de Janeiro como matéria-prima para o terror Abraço de Mãe, da Netflix, com Marjorie Estiano.
Abraço de Mãe é um raro filme de terror brasileiro contemporâneo a receber algum destaque no cenário nacional, por meio da distribuição da gigante do streaming Netflix. Só por isso, ele já seria capaz de despertar a curiosidade necessária para fazer uma visita ao título valer a pena.
Afinal, o gênero terror é sempre metafórico e os medos que afligem os brasileiros não são exatamente os mesmos que apavoram as pessoas em outras localidades. Além disso, Marjorie Estiano é uma atriz sempre interessante e sua escolha por projetos no horror mostra a disposição em percorrer por caminhos inexplorados.
Ambientado no Rio de Janeiro durante a histórica tempestade tropical de 1996, o filme mergulha em uma noite de pesadelos e terror. A trama acompanha Ana (Marjorie Estiano), uma bombeira que, junto com sua equipe, enfrenta uma luta desesperada para evacuar um hospital em risco de desabamento. No entanto, os misteriosos residentes do local têm planos sinistros e perturbadores.
Conforme a tempestade se intensifica, Ana se vê confrontada não apenas com o perigo iminente, mas também com traumas profundos de seu passado. Abraço de Mãe explora temas de pavor, paranoia, religião e existencialismo, proporcionando uma experiência de terror psicológico intensa e envolvente. À medida que a noite avança e os eventos se desenrolam, Ana descobre que o verdadeiro horror pode estar mais próximo do que imaginava.
O filme, que tem direção do argentino Christian Ponce, tem nas grandes tempestades que assolaram o Rio de Janeiro, a matéria-prima para uma narrativa potencialmente amedrontadora. O cineasta, dessa forma, transita entre o terror psicológico e uma inspiração em HP Lovecraft, no sentido de enfocar a sugestão para deixar os espectadores construírem as próprias perspectivas. Assim, há toques de horror cósmico, muitas convenções do gênero e foco em traumas e simbologias.
No entanto, a mescla nem sempre funciona bem, principalmente no final. Isso porque, ao misturar elementos que ora dependem da perspectiva e da curiosidade, ora se apoiam em explicações mais explícitas, o filme perde força. Apesar disso, a obra discute o trauma com uma boa ambientação e uma interpretação competente de Marjorie Estiano.
Sophia Mendonça é jornalista e escritora. Também, atua como youtuber do canal “Mundo Autista” e é colunista da “Revista Autismo/Canal Autismo“ e do “Portal UAI“. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Assim, em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Já em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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