Crítica de A Mão que Balança o Berço (2025). Remake com Maika Monroe e Mary Elizabeth Winstead atualiza o clássico com tensão LGBTQIA+,
O aspecto mais interessante no remake de “A Mão que Balança o Berço” (2025) é a maneira como a diretora Michelle Garza Cervera atualiza o medo nessa história sobre maternidade desvalorizada e perigos domésticos. Dessa forma, o filme revive o estilo yuppie-in-peril dos anos 1990. Este subgênero explora a vulnerabilidade de espaços seguros, como a casa e o trabalho. Com isso, sugere que a ameaça vinha de pessoas próximas. Porém, se na década de 90 o medo nasce da falta de informação, hoje, apesar do excesso de dados e ferramentas de verificação, continuamos desconectados e vulneráveis. Assim, o subúrbio rico não afasta o mal. Na verdade, ele ressignifica o medo por meio do isolamento e do excesso.
É nesse cenário que conhecemos, na Los Angeles atual, Caitlyn Morales (Mary Elizabeth Winstead). Ela é uma advogada imobiliária casada com o arquiteto Miguel (Raúl Castillo). Grávida do segundo filho, Caitlyn oferece serviços pro bono para pessoas de baixa renda. Ela conhece Polly Murphy (Maika Monroe), uma jovem destituída que luta contra um aumento abusivo de aluguel. Meses depois, após dar à luz a bebê Josie, Caitlyn reencontra Polly casualmente. Exausta ao tentar equilibrar maternidade, carreira e a gestão da casa, e notando que Polly ainda vive em condições precárias, Caitlyn decide contratá-la como babá.
Em vez de repetir a dinâmica óbvia entre marido e babá, o filme insere uma tensão sexual entre as protagonistas e explora medos sobre uma suposta predação na comunidade LGBTQIA+, Isso é algo algo que surge na interação da babá com a filha mais velha, que questiona sua própria identidade. O fato de protagonista e antagonista serem bissexuais adiciona profundidade à abordagem de como o preconceito estrutural afeta a própria comunidade.
No entanto, “A Mão que Balança o Berço” perde força no terço final. Isso porque o roteiro aposta em explicações verbais excessivas sobre as motivações das personagens. O que dilui a tensão e desperdiça a chance de criar um horror camp ou de mergulhar na psicologia da trama. O resultado, dessa forma, é um filme mais morno do que envolvente. Esse problema torna-se mais grave pela atuação de Maika Monroe. Afinal, falta sutileza e ambiguidade à interpretação. Isso porque Polly surge rapidamente como uma figura ameaçadora. Assim, mina qualquer surpresa ou catarse que o desfecho poderia oferecer.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UFPel). Idealizadora da mentoria “Conexão Raiz”. Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).
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