Arte e entretenimento

Crítica: “A Casa de Dinamite” (2025)

Em seu novo filme da Netflix, “A Casa de Dinamite”, a diretora Kathryn Bigelow investiga a aterrorizante realidade da aniquilação nuclear. Foi ela, aliás, que em 2010 se tornou a primeira mulher a ganhar o Oscar de Melhor Direção pelo tenso “Guerra ao Terror”. Desta vez, Bigelow foca desta vez na velocidade assustadora com que vidas comuns podem ser destruídas — menos de 20 minutos — e na pressão inimaginável sobre os poucos indivíduos que devem decidir como intervir.

Aos 73 anos, a escolha do tema por Bigelow não é casual. Isso porque as suas memórias da era nuclear remontam à infância na Califórnia dos anos 1960, em plena Guerra Fria, quando os exercícios escolares de “abaixar e se proteger” contra ataques nucleares eram rotina. “Eu cresci me escondendo debaixo da minha carteira”, relembrou ela em entrevista ao jornal The Guardian. “Claro, eu era muito nova para entender o que estava fazendo lá embaixo.”

A filmografia de Kathryn Bigelow, a primeira mulher a ganhar o Oscar de Melhor Direção

Essa vivência confere ao filme uma verossimilhança aterradora. Bigelow, por sinal, é conhecida pelo realismo angustiante em obras como “A Hora Mais Escura” (2012), que retrata a caçada a Osama Bin Laden. Já em “A Casa de Dinamite”, ela costura a narrativa alternando os pontos de vista dos profissionais envolvidos. Com isso, cria um suspense que torna a degradação concreta da espécie humana uma possibilidade palpável e imediata.

O filme também expõe o absurdo de convivermos diariamente com um risco dessa magnitude — e a impotência que ele gera — enquanto nossas preocupações se voltam para dramas de redes sociais, rixas políticas e outros ataques que desonram a vida. Portanto, outra contribuição de Bigelow, com sua qualidade técnica habitual, é tornar essa contradição visível. Dessa forma, ela trata os personagens com seriedade, sem cair na caricatura.

A abordagem das armas nucleares no filme da Netflix, A Casa de Dinamite

A tese do filme, aliás, ecoa diretamente as advertências do filósofo e pacifista japonês Daisaku Ikeda

, que dedicou sua vida à eliminação das armas nucleares. Afinal, desde 1981, Ikeda publica Propostas de Paz endereçadas à ONU. Em seu texto de 2022, ele observou que não importa quanto lutemos por um mundo melhor, “uma vez iniciada a troca de forças nucleares, tudo terá sido em vão”. Portanto, a obra de Bigelow serve como um poderoso lembrete dessa realidade. E remete também ao filósofo budista japonês Nichiren Daishonin, que no século XVI escreveu: “Antes de se preocupar com a segurança pessoal, devo primeiro orar pela paz nos quatro quadrantes da terra”.

Avaliação

Avaliação: 4 de 5.

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Autora

Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UFPel). Idealizadora da mentoria “Conexão Raiz”. Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.

Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).

Mundo Autista

Ver Comentários

  • Discordo completamente dessa crítica. O tema foi muito mal aproveitado. Só mostrou um lado da história e pior, não teve desfecho.
    A direção não aproveitou a tensão para um final apoteótico.
    Filmes como "Planeta dos Macacos" (o primeiro) e o filme de baixo orçamento " O Nevoeiro" mostram como um filme de tensão pode render um excelente final aproveitando o clima desenvolvido ao longo da história.
    No caso do filme em apreço, foi uma grande decepção e o sentimento de ter perdido tempo assistindo.

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