Victor Mendonça
O Mundo Autista conversou com especialista que esclarece sobre se os autistas estão em grupo de risco com relação ao Covid-19 e alerta para os cuidados necessários com a população autista.
Diante da atual pandemia do Covid-19, o novo Coronavírus, é recorrente a proliferação de posts nas redes sociais registrando que autistas estão no grupo de risco. Contudo, essas publicações não escapam de críticos, os quais rebatem tal afirmação com o argumento de que somente a condição neurológica não é suficiente para suprir os pré-requisitos necessários à inserção de autistas neste patamar de vulnerabilidade.
Autistas estão no grupo de risco para o Covid-19?
A neuropsiquiatra e pediatra doutora Raquel Del Monde esclarece que é preciso distinguir entre risco de contágio e risco de complicações e morte. Segundo ela, autistas estão, sem dúvida, em risco aumentado de contágio, mas isso não quer dizer que estejam no grupo de risco. Afinal, isso diz respeito às pessoas que têm propensão a desenvolver complicações orgânicas em decorrência de fatores como presença de doenças pré-existentes ou comprometimento do sistema imunológico.
A médica explica que muitos autistas apresentam comportamento de busca sensorial: passam a mão em tudo (paredes, superfícies diversas, objetos), levam objetos à boca constantemente, levam objetos ao nariz para cheirar. Ela também afirma que alguns não alcançam a mesma compreensão que nós temos acerca dos riscos e não entendem por que precisamos mudar nosso comportamento em relação às outras pessoas (não cumprimentar, não abraçar ou beijar, não tocar). Estes fatores sensoriais e comportamentais são o que tornam a criança autista mais propensa a se contaminar pelo vírus.
Se pensarmos nas condições coexistentes presentes no quadro clínico de quem apresenta o TEA (Transtorno do Espectro Autista), há autistas com condições orgânicas que os colocam em risco — da mesma forma que para os neurotípicos — e condições neuropsiquiátricas. “Autistas apresentam risco maior para ansiedade e depressão, mas – a não ser em casos extremos – isso não chega a afetar a imunidade“, elucida doutora Raquel Del Monde.
Que cuidado devemos ter com as pessoas autistas neste momento?
De acordo com a neuropsiquatra, médicos e cuidadores precisam ter em mente que as manifestações de desconforto físico podem ser diferentes nas crianças autistas, muitas vezes na forma de comportamento agitado/ agressivo, piora do humor, alterações de sono ou apetite ou intensificação de questões sensoriais ou dos stims.
Raquel Del Monde lembra que as alterações de humor variam de acordo com as particularidades de cada um. Ela afirma que, de modo geral, a mudança de rotina, a suspensão brusca das atividades rotineiras e a exposição aos noticiários podem ser fontes de grande ansiedade
. Por isso, organizar uma nova rotina é sempre o primeiro passo, de preferência sinalizada da forma que funciona melhor para cada pessoa.A médica orienta que incluir atividades necessárias (horários de alimentação, tarefas, banho etc.), atividades prazerosas, algum tipo de exercício físico e intervalos sensoriais são pontos importantes para essa rotina, que também é crucial para autistas com maior dificuldade de autonomia. Da mesma forma, nesses casos, ela recomenda o uso de histórias sociais, imagens e vídeos para explicar sobre os cuidados de higiene que precisam ser tomados.
Afinal, as informações sobre a pandemia devem ser oferecidas de acordo com o grau de compreensão de cada um (existem diversos vídeos circulando na internet mostrando maneiras concretas e lúdicas para explicar sobre contaminação para crianças). “É importante que os adultos respondam às perguntas com honestidade, mas sem alarmismo”.
Doutora Raquel salienta que, em relação a autistas que também apresentam condições médicas como hipertensão e diabetes, os cuidados são os mesmos que se aplicam a pessoas neurotípicas com as mesmas condições. Ou seja, precisam seguir as recomendações médicas no que se refere à alimentação, uso de medicamentos, exercícios físicos e outros zelos. Entretanto, a médica alerta que aqueles com maiores limitações, em termos de autonomia, necessitam da atenção de seus cuidadores e de observação cuidadosa para detectar sinais de descompensação ou piora.
Para a prevenção do Covid-19, Doutora Raquel Del Monde é enfática: distanciamento social, em primeiro lugar. Isso significa ficar em casa e evitar qualquer ambiente onde circulem muitas pessoas. “Também é importante lavar as mãos várias vezes ao dia, principalmente antes e depois de comer, depois de usar o banheiro, depois de tocar superfícies potencialmente propensas à contaminação e tocar outras pessoas sem necessidade, não cumprimentar com apertos de mão, abraços ou beijos, além de usar máscara se tiver qualquer sintoma respiratório”, conclui a neuropsiquiatra e pediatra.
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