Victor Mendonça
Com carreira marcada por vitórias e polêmicas, a viúva de Kurt Cobain receberá a homenagem em 12 de fevereiro próximo por ser “uma das cantoras mais influentes nos últimos trinta anos”.
Aos 55 anos, Courtney Love continua dando o que falar. Para alguns, ela será sempre a viúva de Kurt Cobain, marcada pelo vício em drogas amplamente divulgado nos meios de comunicação, embora, há muito tempo, venha mantendo a sobriedade. Contudo, ela também é uma atriz de renome que trabalhou com alguns dos maiores astros de Hollywood e conquistou prêmios, uma cantora e compositora aclamada pela crítica e que vendeu milhões de álbuns, além de ícone fashion.
Para quem acompanha a carreira de Courtney, que será premiada como ícone no NME Awards 2020 por ser “uma das cantoras mais influentes dos últimos 30 anos”, pode parecer que a artista possui uma vida social muito “agitada” para quem foi diagnosticada aos nove anos de idade com uma manifestação branda do autismo. Entretanto, um olhar mais cuidadoso irá perceber o porquê deste diagnóstico, seja acompanhando as letras de músicas que revelam uma garota tímida e desajeitada, seja percebendo a série de comportamentos socialmente inadequados que surgiram desde que Courtney atingiu a fama no final dos anos 80.
O diagnóstico
Courtney diz tudo que vem à cabeça e coleciona polêmicas desde que está em evidência. Sua fala sem filtro e mesmo meltdowns (crises) durante shows foram suficientes para desafiar a noção de como uma mulher deve se comportar (veja a reportagem sobre autismo no feminino) e gerar certa antipatia na ala mais conservadora do público. Por outro lado, há muitos os que admirem seu jeito autêntico e a garra para lidar com situações difíceis, como o suicídio do marido (aos 27 anos), que lhe deixou com uma filha, à época criança, para cuidar.
Segundo consta na biografia Courtney Love: The Real Story, de 1997, o diagnóstico de Courtney como autista leve veio quando ela tinha nove anos, após uma série de dificuldades de socialização e no desempenho escolar. A própria Courtney já afirmou “não ter boas habilidades sociais”.
Carreira
Courtney Love teve infância itinerante, chegando a morar com o padrasto e com amigos da família e até mesmo em reformatórios, devido a seu comportamento complicado, mas foi criada majoritariamente em Portland, Oregon, onde tocou em uma série de bandas de vida curta e foi presença ativa no cenário punk local. No final da década de 80, ela foi escalada para os filmes “Sid & Nancy – O Amor Mat a
” (1986) e “A Caminho do Inferno” (1987), ambos do diretor Alex Cox.Em 1989 a artista formou a banda Hole, que recebeu significativa atenção no cenário do rock alternativo pelo álbum de estreia produzido por Kim Gordon, “Pretty on the Inside” (1991). O segundo lançamento do Hole, “Live Through This” (1994) mereceu a aclamação da crítica e vendas multiplatina. Em 1996, Courtney Love retornou à atuação no filme “O Povo Contra Larry Flynt”, do cineasta Milos Forman, que já havia sido agraciado com dois Oscar de Melhor Direção.
Por este papel, ela foi indicada ao Globo de Ouro, recebeu diversos outros prêmios por interpretar a esposa do rei da pornografia dos Estados Unidos, e se estabeleceu como uma atriz de primeira categoria em Hollywood. Pouco depois, o Hole lançou seu terceiro álbum, “Celebrity Skin” (1998), indicado a três Grammy Awards. A essa época, Courtney já havia abandonado sua imagem radical, ao menos nos figurinos, tornando-se um ícone fashion. Ela permanece ligada à indústria da moda até a atualidade.
Courtney continuou atuando em filmes de grande orçamento como “O Mundo de Andy” (1999) e “Encurralada” (2002), e lançou o álbum “America’s Sweethart” (2004), que ela própria define como seu pior trabalho. Após um período na reabilitação até atingir a sobriedade, ela deu a volta por cima com o álbum “Nobody’s Daughter” (2010), além de outros singles solos e por suas participações, como atriz, em séries de TV como “Sons of Anarchy”, “Empire” e “Revenge”.
Seus últimos trabalhos na atuação foram os filmes “Menendez: Irmãos de Sangue” (2017) e “JT Leroy” (2019), em que contracena com Kristen Stewart (de “Crepúsculo” e “As Panteras”) e Laura Dern, favorita ao Oscar 2020 por sua interpretação em “Histórias de um Casamento” (2019). Ela também lançou, no final do ano passado, a música Mother, que está na trilha sonora do filme “Os Órfãos”, cuja estreia ocorreu este ano.
Espiritualidade
Courtney Love se dedica à prática budista como membro da associação de praticantes leigos Soka Gakkai Internacional. Em 2015, em entrevista ao comunicador estadunidense David Letterman, ela disse que a recitação do mantra Nam Myoho Renge Kyo, como é ensinado na tradição do Budismo de Nichiren Daishonin, salvou sua vida. No livro “Dez Anos Depois”, coletânea redigida com Selma Sueli Silva, escrevi um texto sobre Courtney e a espiritualidade, que também pode ser acessado aqui.
Acessibilidades para uma explosão sensorial no autismo e o Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) são…
Sophia Mendonça e o Budismo: “Buda é aquele que consegue suportar” e mesmo o inferno…
Crítica de cinema sem lacração, Sophia Mendonça lança newsletter no Substack. De volta às raízes,…
Conto infantil é metáfora para o autismo? Youtuber e escritora Sophia Mendonça lança contação de…
Nunca Fui Beijada é bom? Drew Barrymore é a alma cintilante de clássico das comédias…
Pensamento lógico e o autismo. O que isso significa? Tenho considerado o peso da ponderação…