Como se referir a uma pessoa autista é uma dúvida recorrente neste espaço. Meu nome é Sophia Mendonça. Eu sou autista. Ou seja, fui diagnosticada dentro do autismo, aos onze anos de idade. Hoje eu tenho vinte e cinco. Além disso, sou filha de uma mulher, também, autista. Assim, sou youtuber do canal Mundo Autista, ao lado dela. Ainda atuo como desenvolvedora, com mestrado em Comunicação pela UFMG. Por fim, sou autora de nove livros. Agora, estou aqui para tirar algumas dúvidas, de nossos leitores.
O diagnóstico do TEA, Transtorno do Espectro do Autismo, não é feito por exames. Ou seja, é um diagnóstico clínico que exige observação e investigação por meio de entrevistas com a família. Aliás, seja a pessoa adulta ou criança. No caso do adulto, essa investigação é um pouco mais complexa. Isso porque envolve um resgate de quando a pessoa era criança.
A pesquisa é feita por conversa com a própria pessoa, documentos da época, como por exemplo, da escola frequentada e entrevistas com familiares. Portanto, é um diagnóstico clínico, baseado nessa capacidade de observação e interpretação dos critérios do profissional. Em alguns casos, pode ser também indicado, uma avaliação neuropsicológica pra descartar outras possíveis condições.
Geralmente, os próprios autistas preferem o termo pessoa autista. Em outras palavras é um termo mais ligado aos ideais da neurodiversidade, que é como a maioria dos autistas ativistas se reconhecem e se percebem. Eles repudiam a visão do espectro autista como uma doença a ser curada. As pessoas autistas se veem como um grupo social de pessoas com cérebro neurodivergente.
Atualmente, pessoas autistas questionam alguns símbolos que se tornaram bastante emblemáticos na comunidade do autismo. Como, por exemplo, o quebra-cabeças. Afinal, ele passa a ideia de que autistas tem algo que falta, um mistério complexo, difícil, enigmático demais.
Nos dias atuais, há uma preferência pelo símbolo do infinito em arco-íris. A explicação é que ele representa a noção de espectro. Ou seja, o espectro não como divisão de mais ou menos autista. Mas com todas as possibilidades de o autismo se manifestar em todas as cores, que podem variar muito em cada característica de uma pessoa pra outra.
O diagnóstico é um assunto da mais alta importância. Em primeiro lugar, na infância ele é relevante, principalmente, antes dos três anos de idade. Assim, é possível fazer uma série de intervenções de maneira precoce. Tais estímulos garantem mais qualidade de vida e poder de adaptação, com menos sofrimento, diante dos desafios da vida diária, cuidados básicos e interações sociais.
Em segundo lugar, na vida adulta, o diagnóstico também é muito importante. Mesmo que algumas pessoas digam que não, porque o adulto já viveu muito e venceu barreiras, mas isso é puro preconceito. Afinal, na realidade, o diagnóstico garante direitos que respalda a pessoa como alguém com deficiência. Ou seja, é importante porque a pessoa tem, realmente, uma limitação que esbarra numa barreira da sociedade.
Daí, ela precisa desse suporte. Mas, também pra trazer paz, autoconhecimento. Dessa forma, a pessoa vai poder lidar com suas características e até interagir melhor com familiares, colegas. Ou seja, ela não irá mais se submeter a situações que podem ser motivo de crises e de estresse.
A inclusão de crianças autistas vem sendo cada vez mais falada, mas ainda é um grande desafio. Em outras palavras, a legislação sobre o tema é muito nova. A lei traz, por exemplo, a presença do mediador na escola. O que leva a necessidade de uma certa estrutura que hoje as escolas ainda não têm para acolher os alunos com suas diferenças.
A criança autista ela, além de ser autista, ela é, obviamente, uma criança. Então, ela tem uma série de comportamentos próprios da idade, além de uma dificuldade maior de se perceber. O que não quer dizer que ela é mais autista do que o adulto. Mas é como se fosse isso, como se o autismo fosse ficando mais sutil, muitas vezes, à medida que a gente vai aprendendo a conviver com ele e a interagir com outras pessoas, se expondo ao mundo. Então, a inclusão das crianças vem muito de buscar suportes para que ela possa desenvolver autonomia e qualidade de vida.
Existem vários mitos sobre a inteligência dos autistas. Tem estatísticas já defasadas de que a maior parte dos autistas teria deficiência intelectual. Outros associam autistas a genialidade. Na realidade, tanto as altas habilidades,
a superdotação, quanto a deficiência intelectual podem coexistir com autismo. Mas em casos como a antiga síndrome de Asperger, (esse termo não é mais utilizado), seria um autismo mais sutil, sem prejuízo da área cognitiva do cérebro.Assim, a inteligência costuma ser preservada na média ou acima da média. Então, existem características diferentes das outras pessoas. Como, por exemplo, um maior apego a detalhes, uma tendência ao hiper foco. Aliás, muitas vezes, as pessoas autistas têm a inteligência e/ou a linguagem preservadas. Dessa maneira, elas passam a impressão de serem pessoas muito cultas em determinado assunto, muito inteligentes.
Um dos pilares do diagnóstico de autismo é a dificuldade da comunicação social. Mas ainda há um desafio muito grande para as pessoas interpretarem o que é essa dificuldade da comunicação e como elas se manifesta. A verdade é que, muita gente liga isso, por exemplo, à introversão. Entretanto, não é o que acontece, necessariamente.
Existem autistas que, por uma questão de adaptação, são extremamente extrovertidos. Isso porque o ambiente em que eles foram criados, proporcionou isso. Mas são pessoas que fazem piadas inadequadas, por exemplo. Ou que tem dificuldade em entender o outro, ou seja, de ter essa leitura social.
O autismo ele não tá ligado a essa questão mais superficial da socialização. O autismo está ligado sim, à baixa habilidade social. Uma pessoa que às vezes é muito amiga de alguém, mas que não consegue se impor numa conversa e, por isso, se afasta totalmente desse amigo. Então, são várias nuances, várias maneiras de manifestar a comunicação social. Então, essas dificuldades na comunicação social, é que, geralmente, não são óbvias.
A maior dificuldade para se colocar um autista na escola, além de que a escola costuma ter uma demanda por autonomia, exigindo um enquadramento das crianças, é a exposição ao bullying, com outros colegas. Porque como a pessoa autista é diferente, ela fala num código que não é o mesmo do colega. Assim, a outra pessoa não entende. Certamente, as crianças, por vezes, não são acolhedoras com essa pessoa autista, com essa criança autista. Então eu penso que a maior dificuldade seja essa, do autismo em si. Claro que podem ter outras condições que existam juntos. como dificuldade na aprendizagem.
Mas dentro do espectro, o que pega mesmo, são as dificuldades de se socializar. Como r, por exemplo, aquela pessoa muito quieta, que causa uma certa estranheza, ou uma pessoa muito inconveniente, que também causa uma certa estranheza, e que acaba tendo dificuldade de se comunicar com os colegas. .
Não necessariamente, a pessoa autista vai ter uma dificuldade de aprendizado ou alguma outra coisa. Ela pode ter condições coexistentes como TDAH, por exemplo, ou outros transtornos, ou até altas habilidades que, embora muita gente veja como positivo, pode trazer a sensação de inadequação e tédio para a criança.
Entretanto, a realidade é que as escolas, em sua maioria, ainda trazem um jeito bem engessado de ensinar, o que causa, certamente, maior dificuldade de aprendizagem. Então, a pessoa autista tem uma maneira diferente de processar as informações, e isso precisa ser respeitado.
Conclusão: a forma diferente de aprender costuma levar a uma maior dificuldade de generalização. Em outras palavras, num contexto a criança autista consegue fazer aquilo perfeitamente, mas saiu daquele contexto, é como se não fizesse sentido. Aliás, é como se ela não tivesse aprendido nada. Essa criança tem maior dificuldade, também, com conceitos mais abstratos. Às vezes, a pessoa autista precisa de algo mais concreto, mais literal.
Por isso, algumas maneiras do ensino precisam ser repensadas para a pessoa autista conseguir desenvolver o máximo da sua habilidade acadêmica estudantil. O máximo de seu potencial.
Da Redação do Mundo Autista
Você sabia que a música Firework, de Katy Perry, é um hino budista? Confira a…
Enfeitiçados parte de uma premissa inovadora e tematicamente relevante. O filme traz uma metáfora para…
Sophia Mendonça resenha o especial de Natal A Nonsense Christmas with Sabrina Carpenter, com esquetes…
O autismo na série Geek Girl, uma adaptação da Netflix para os livros de Holly…
Os Fantasmas Ainda se Divertem funciona bem como uma fan service ancorada na nostalgia relacionada…
Ainda Estou Aqui, com Fernanda Torres, recebeu duas indicações ao Globo de Ouro e está…
Ver Comentários
Parabéns pelo Excelente texto! Objetivo e esclarecedor....obrigado por compartilhar!
Obrigada pelo retorno!!!
Muito obrigada pela orientação
Bom dia!
Sou locutor e trabalho em uma loja de artigos variados com bijuterias e acessórios.
E em fazer a divulgação dos cordões de identificação, falei que eram para pessoas atípicas. Uma advogada me repreendeu dizendo q não posso me referir assim às pessoas.
Então, gostaria de saber, por gentileza, como posso divulgar tais acessórios.
Agradeço a atenção.
Flávio: O cordão de girassol é destinado a pessoas com deficiências não visíveis. O autismo é uma delas, o uso da bolsa de colostomia outra. Mas se uma pessoa atípica, como alguém com paralisia cerebral quiser usar, tudo bem. E sim, existem pessoas atípicas e as típicas. Tudo bem falar assim. As pessoas autistas costumam usar tb, o cordão com o símbolo do infinito - da neurodivergência e das peças do quebra cabeças que os autistas adultos não aprovam, em sua maioria.
Abraço.
Amei demais as explicações!!!
Parabéns pelo artigo!
Uhulll. Ficamos felizes.
Bjo
Parabéns por essa página. Tudo muito bem explicado, informações importantes .
Que bom que vc gostou. Se quiser sugerir um tema, vamos nessa!