Victor Mendonça e Raquel Romano
Victor e Raquel falam sobre como desenvolver a espontaneidade.
Victor Mendonça: Raquel, já que brincadeira é coisa séria, eu estava pensando que, logo quando a gente iniciou a nossa prática de arteterapia, eu propus algo que era meio “louco” assim, de pensar. Eu falei com você que eu queria desenvolver a espontaneidade. Mas, como que desenvolve a espontaneidade se é uma coisa que flui naturalmente para as pessoas? Eu me lembro que você fez um trabalho muito bacana comigo, com diversas linguagens artísticas, usou muitos jogos teatrais tendo como referência o trabalho de autores como a Viola Spolin, por exemplo. Conta para a gente? Por exemplo, eu sou autista, no caso, mas e outras pessoas? Podem ter esse desafio? Como que eu vou desenvolver algo que é natural e está lá, se soltar e sem me perder nisso, digamos assim?
Raquel Romano: Sem se perder nisso e se manter dentro da caixinha, né Victor? Que é essa a questão. Eu acho que a gente vive, a nossa educação em geral, ela nos coloca em uma caixinha que a gente desenvolve medos de se expressar, com medo de ser ridículo, medo da crítica. Que crítica? O que é certo? O que é errado? Então, na arteterapia, eu trabalho com todas as expressões, todas as linguagens artísticas, expressivas, e a linguagem teatral tem se mostrado muito poderosa. Com estratégias que nos levam a vencer medos, proporcionando liberdade de expressão, isso que é o mais importante. De expressão e comunicação. Sem limites. Até se chegar a um ponto de equilíbrio. Isso que é interessante: um ponto de equilíbrio que seja confortável para a pessoa, que ela não se sinta forçada: “ah, assim eu vou ser espontâneo”. Não. Aí você corta. A gente trabalhou e trabalha com Viola Spolin, como você falou, que é um expert em improvisação, e é muito interessante que você deve lembrar que a gente fazia os exercícios com objetos. Objetos reais, objetos imaginários, bolas, enfim, era uma gama de recursos que a gente lançava mão e a gente tinha uma fala sempre: “Não deixe o seu pensamento invadir a sua ação. É sem consciência. Vai.” Esse jogo do brincar com a mente, com o corpo, com os objetos, brincar com as palavras, são jogos mesmo. E essa improvisação, você vai até o ponto de se sentir bem
e, quando você percebe, já não tem mais medo de falar em público, de se expressar do seu jeito, com a sua própria voz. Então, eu tenho utilizado teorias e exercícios de um outro de um autor muito interessante que é Jacob Moreno Levi*. Ele fala do teatro da espontaneidade, que ele também propõe, é a pessoa, possibilitando o desempenho de livres papéis e seus vínculos. Por quê? Os sentimentos são ferramentas que a gente usa. Qual é aquele sentimento que te amarra? Que te deixa preso? Que não te deixa se expressar livremente? Então, esses sentimentos vão sendo descobertos. Então, é um processo muito interessante que vai do corpo, da expressão, do gesto, da voz, da palavra, do grito, do nonsense*, que é legal demais, vai e puxa no inconsciente. E, quando você vê, são dissolvidos todos os seus bloqueios e você começa a agir conscientemente, mas de forma espontânea. Entende?Victor Mendonça: É isso mesmo! A Raquel deu uma explicação, acho que clareou muito, e, quando a Raquel fala isso, percebam que essa questão do objeto e de personagem, não precisa ter muitos recursos financeiros ou de objetos, mas é uma questão de criatividade. Usar o que a gente tem e de conhecer as ferramentas de explorar o que já está lá e encontrar um modo de sair. Muito obrigado, Raquel e até a próxima!
Raquel Romano: Nada! Os pais podem brincar com os filhos de faz de conta dentro de casa, que isso é teatro, também, não? Obrigada!
*Jacob Moreno Levi (1889-1974) médico, psicólogo, filósofo, dramaturgo romeno-judeu nascido na Romênia, crescido na Áustria e naturalizado americano criador do psicodrama e pioneiro no estudo da terapia em grupo. Pioneiro da sociometria, estudo das interações entre grupos.
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