Victor Mendonça

Como escolher a melhor escola para o filho (a) autista

Victor Mendonça e Selma Sueli Silva

Início de ano, uma preocupação na família: e a escola? A escola, um capítulo à parte… A gente vai tentar dar uma pincelada em várias coisas. Primeiro, vamos considerar uma pessoa que está com uma criança entrando no Ensino Infantil. Qual é a melhor escola para a sua filha, o seu filho? Sempre achamos que é aquela escola que é da comunidade, do bairro, que é perto. Porque mães e pais são tão atribulados que às vezes pensam assim: “Tem uma escola maravilhosa, mas é do outro lado da cidade…”. Ok. Um ano com esse desgaste do outro lado da cidade já invalida uma série de coisas que poderiam ser positivas.

E o que seria essa “escola boa”? É uma escola na qual você pode ter estímulos para desenvolver o potencial de criança, na parte mais lúdica, da brincadeira.

Aí está a LBI – Lei Brasileira de inclusão – que não permite que qualquer escola, de qualquer nível, não aceite a matrícula de uma pessoa com deficiência. Mas a gente tem que ser bem realista porque, num primeiro momento, há um medo de sim da maior parte das escolas.

Então, qual seria a escola interessante? Aquela que você visita e conhece bons profissionais. Porque o bom profissional não tem medo do desconhecido, não tem medo de crescer, de ousar. O bom profissional entende de gente, e se encanta com essa diversidade, com essa neurodiversidade. Você vai conseguir isso do diretor ao coordenador, dos funcionários aos educadores? Não. Porque as pessoas são interessantes e diferentes. E a gente vive num mundo real, em que as pessoas estão em estágios distintos de evolução. Então, você vai tirar uma média. Se na média geral o seu filho for bem acolhido ali, vai ser muito importante. Se o coordenador tiver essa qualidade do bom ser humano de entender de gente, de entender de educação, então nenhuma educação, bem mesmo inclusiva, cria medo nele. Ele vai intermediar relações com quaisquer professores que não sejam assim. Se você tiver o coordenador mais ou menos e todos os professores envolvidos, também dá certo. É isso que você tem que pensar.

Isso não vale só para o Ensino Infantil – fundamental I, II e médio também. Selma foi muito criticada porque quando o Victor passou para o Ensino Fundamental I, depois para o Ensino Fundamental II, as coisas que eram da adolescência começaram a pegar mais, e logo depois no Ensino Médio ela falava assim: “É horrível. É um saco. Todo mundo tem que passar por isso e todo mundo consegue. Todo mundo sobrevive. Eu garanto: vai melhorar.” A gente não vai colocar o Ensino Infantil nesse pacote, se bem que agora já tem algumas escolas que estão querendo treinar os bebezinhos para o vestibular. Dessas escolas que não estão preocupadas com o ser humano, e sim com números, tem muitos pais que gostam. Mas a gente, particularmente, não gosta. Se você construir, investir num bom ser humano, ele tem infraestrutura, ele tem essência para tirar de letra qualquer situação. Se você pega os nerds, no sentido de empreendedores (“ah, eu quero saber o índice de aprovação no vestibular aqui, o que vocês fazem para o ENEM etc.”), tem famílias que priorizam filhos que serão empreendedores. E serão. De sucesso, ganharão muito dinheiro, mas serão aqueles chefes odiados, aquelas pessoas solitárias, que se acham superinteligentes, mas não têm ninguém que as compreendam. A pessoa tem que aprender a ser humana no sentido de aprender a lidar com os próprios conflitos e a gerenciar os conflitos que surgem ao redor dela – e nisso a Educação Inclusiva faz bem para todo mundo, tanto para autistas, pessoas com deficiência ou condições neurodiversas, quanto para os típicos.

A gente não está aqui para dourar a pílula. Tem sempre aquela mãe que diz: “Mas fulaninho e fulaninha estão atrasando o desenvolvimento do meu filho. Eu tenho culpa se o meu filho não nasceu nessas condições? Ele vai ser prejudicado. Vinte pessoas, vinte alunos prejudicados por causa de dois alunos?”. A vida é muito mais que um cronograma, que um planejamento. A vida envolve aprender, descobrir, se relacionar. Então, ficamos encantados quando você olha as crianças e surge um conflito ali, e observam a maneira como elas estão preparadas ou se preparam para lidar com aquilo. Elas se fazem no processo, tornando-se adultos mais capazes tanto no mercado de trabalho quanto na sua vida pessoa também. É a tal da “inteligência emocional”.

Quando a gente sonha em filhos, sonha uma série de coisas, a gente quer tudo em condições maravilhosas de temperatura e pressão para termos o melhor resultado. Na vida, não é assim. Sempre as adversidades é que nos tornam melhores, se a gente permitir. Tem gente que passa por dificuldades, vai lamentar, vai chorar, vai se julgar infeliz: “A vida não me deu oportunidade”.

Muitos pais preocupam-se com as terapias dos filhos, que são importantes por causa dos estímulos e condições que devem ser tratadas. Porém, a escola é uma das melhores formas de a pessoa exercitar aquilo que ela aprende na terapia, é onde ela vai interagir com as pessoas, é onde ela vai aprender a lidar com as pessoas no dia a dia. Como é que a gente aprende? A gente aprende se relacionando, na prática, mesmo. E como é que a escola inclusiva vai aprender? Ela vai aprender ouvindo os profissionais que lidam com aquela criança também. Porque eu agora estou na escola sou aluno, estou no consultório na minha psicóloga, sou paciente? Não. Eu sou eu, em qualquer lugar. Então, quando há abertura para essa troca de experiências entre todos os profissionais e a família que estão envolvidos nesse processo, ela está priorizando o ser humano.

Acreditamos na educação humanística, no professor humanista. Como é essa educação? É aquela educação que sabe que aquele aluno que está na sala tem uma história, um contexto e uma característica dele, que têm que ser observados e conhecidos, porque vai ser a partir daí que você vai perceber como acessar o coração do seu aluno para acessar o cérebro do seu aluno. Isso a gente faz no processo. O caminho se faz ao caminhar. Sem emoção, sem essa atitude de emoção, de conquista, não há como.

Já estamos imaginando um educador questionando: “Vem fazer isso com 70 alunos”. Nós temos dado palestras até para 450 pessoas. É apenas uma comparação. Quando ouvimos uma pessoa, podemos não lembrar o nome, mas compreende o olhar ou quaisquer características que nos remetam àquela pessoa que está conversando com a gente, porque ela é única. E a gente capta e vê essa pessoa como a mais importante, naquele momento. Porque ela tem uma demanda única.

Então, para não ficar no “falar é fácil, difícil é fazer”: Primeira coisa, não existe mais aquele educador que não estuda, que tem o mesmo plano de aula há muitos anos. A vida é dinâmica, hoje a gente tem o mundo, hoje a informação está toda na Internet. Em tese, o aluno não precisa mais do mestre para ter acesso a todas as informações, para conhecer o mundo em seus detalhes. O que vai fazer a diferença é a forma como esse educador vai fazer esse aluno enxergar essas informações, porque a gente grava é o que fica marcado no coração, é o que passa pela nossa vivência. O conteúdo é o mesmo para todo mundo, mas a forma é que vai definir como a pessoa vai captar esse conteúdo, extraí-lo para utilizá-lo e aplicá-lo.

Então, qual é a melhor escola para os filhos? A gente vai gastar sola de sapato para fazer pesquisa na comunidade. Não caiam no amadorismo em que caímos: levar o filho na escola que foi a melhor para ele – o Colégio Padre Eustáquio – na hora do recreio. Um autista na hora do recreio dos adolescentes! Ambos ficaram apavorados com o tumulto e se sentiram inseguros. O filho só passou a estudar lá anos depois.

Faz a diferença na vida do ser humano a sua capacidade de ser empático. E aí, não existe salário baixo, não existe barreira. Existe gente querendo se manter atualizada porque está convivendo com gente, porque colhe bons resultados, porque cresce e aí se aproxima.

Victor teve uma experiência maravilhosa de falar, a convite da professora Rose Teodoro, em uma escola municipal de Betim. Ele falou para pré-adolescentes de 11 a 14 anos. Hoje as crianças vivem num mundo de telas, mas a experiência do contato com a literatura, dessa essência do aprendizado, do aprendizado como arte, que provoca, incomoda, estimula à reflexão, é muito importante. Ele foi passar sua vivência como escritor na escola, e foi fascinante. Aprendeu muito com esses pré-adolescentes. Foi maravilhoso.

Precisou de uma educadora antenada, que foi a uma palestra, conheceu o livro do Victor, leu o livro “Outro Olhar – Reflexões de um Autista” em sala, ela é a professora de literatura. E ela promove depois um encontro com o autor. Pensem bem a riqueza desses alunos dela. Ficamos encantados, porque ver alunos de 11 a 14 anos com os olhos grudados no Victor e prestando atenção numa época em que é difícil prestar atenção. Na realidade, a professora tinha trabalhado. Ali estava mais que o Victor Mendonça, ali estava o ser humano Victor Mendonça que escreveu tanta coisa bacana que eles queriam saber. E ela, como professora e educadora, construiu essa base, esse alicerce.

O nosso beijo para Rose Teodora. Queremos mais educadores como você. O texto de hoje é em sua homenagem, em homenagem à sua escola!

Mundo Autista

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