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Como atua um psicólogo de pessoas LGBTQI+?

Victor Mendonça e Samuel Silva

Victor Mendonça: A gente vai falar de um tema que é muito importante, não apenas dentro do universo de autismo, mas dentro de qualquer outro universo, que é a questão de como ser um psicólogo que lida com questões de pessoas LGBTQIA+. Eu me lembro de que, na minha infância, mesmo tendo uma família muito aberta e tudo, eu tinha uma dificuldade de me aceitar. Esse processo de me aceitar não foi tão fácil, Samuel. Vi que no seu trabalho nas redes sociais, você promove uma conscientização maior sobre esse tema e eu queria saber, assim como nossos espectadores e internautas, como você lida com essa parcela da população que tem as suas vulnerabilidades específicas. Você faz algo que, no meio acadêmico a gente chama de afetivo, um trabalho afetivo, que acaba inserido nisso também. Você poderia contar isso para a gente?

Samuel Silva: Posso sim, Victor. Para falar um pouco do meu trabalho, preciso falar de mim também, porque ele surgiu desse caráter afetivo, inclusive. Eu comecei a estudar especificamente sobre homossexualidade, sobre aceitação, sobre o preconceito em 2006, quando entrei na Psicologia. No meu primeiro período da graduação, eu comecei a estudar esse tema, mas lá no início, eu estudei para me entender um pouco mais. Eu queria, na verdade, me aceitar melhor, me entender e vi na psicologia uma possibilidade dessa ampliação do olhar, do autoconhecimento. Algo muito curioso que foi acontecendo é que, a partir desses estudos, a partir desses olhares que eram para mim, eu fui descobrindo uma importante ferramenta na psicologia, também para que outras pessoas passassem por esse processo de se enxergar um pouco mais e de se acolherem nesse sentido. E mais interessante ainda: eu descobri que, na psicologia, algumas perspectivas, algumas teorias, alguns olhares, estavam um pouco desatualizados de acordo com o que eu vivia e observava dos movimentos sociais.

Victor Mendonça: Sim, eu tive esse conflito também.

Samuel Silva: E aí eu comecei um trabalho mais acadêmico, estudando, mas, não só sobre psicologia, como também ciências sociais para entender o que está acontecendo atualmente e trazer mais contribuições para a psicologia, enquanto ciência. E aí, eu descobri que o que eu faço hoje se chama terapia afirmativa. O quê ela quer dizer? É uma vertente dentro da psicologia que existe desde a década de 1980. A psicologia precisa de atenção às questões LGBTQIA+ para que não seja uma prática que reproduz o preconceito. A gente acha que os psicólogos e as psicólogas estão muito evoluídos e, às vezes, a gente derrapa também. Então, eu comecei a trazer esse olhar para a psicologia e hoje ele faz parte da minha prática. Eu digo que sou um psicólogo gay para pessoas LGBTQIA+. Eu tenho esse posicionamento

há bastante tempo, trazendo para a minha atuação como terapeuta e palestrante esse olhar mais cuidadoso com questões ligadas à diversidade sexual e de gênero.

Victor Mendonça: Isso é muito importante porque a gente sabe que psicólogos são humanos, né? Então, quando se fala em ser humano, tem o pior e o melhor, também. A gente vê questões como a “Cura Gay”, que às vezes são discutidas, coisas absurdas assim.

Samuel Silva: A cura gay veio com o respaldo de muitas pessoas dentro da psicologia. Ainda bem que a gente já conseguiu essa vitória de que a Cura Gay não existe, está proibida. E só um adendo nisso, Victor, porque essa discussão vai longe. Por que a psicologia, de forma ética não defende a cura gay? Primeiro, porque as questões LGBTQIA+ não são doença. Elas não precisam de cura. Segundo, porque os métodos dessa “cura” nunca funcionaram e, terceiro: sabe qual foi o efeito das pessoas que já passaram por algum tipo dessas metodologias de cura, que são muitas vezes, uma tortura? Essas pessoas ficaram adoecidas, psicologicamente. Com depressão, ansiedade e muitas tentativas de suicídio.

Victor Mendonça: Muito sério isso, né? Porque não há cura para algo que é da diversidade humana, faz parte do ser humano. Eu queria saber se você tem algum contato para as pessoas que gostariam de acompanhar esse trabalho, que é tão bonito e esclarecedor. Porque não é um trabalho afetivo, é um trabalho que, sim, tem um lado afetivo que é importante, mas é um trabalho técnico, através da psicologia.

Samuel Silva: Ao final de toda palestra, eu falo assim: “Seja a cor que a sua vida precisa”. No sentido de se apoderar da nossa diversidade, porque é ela que nos constitui e nos torna tão únicos e tão importantes. Então, dessa frase nasceu o meu projeto. É só me procurar lá: @seja.cor que eu vou ficar muito feliz com essa troca, com esse contato nas redes sociais.

Contatos Samuel Silva

WhatsApp: (31) 9 9926 3265

Instagram:@seja.cor

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