Catarse - uma crônica de Sophia Mendonça - O Mundo Autista
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Catarse – uma crônica de Sophia Mendonça

Esta é Catarse - uma crônica de Sophia Mendonça, que mistura técnicas de poesia e conto, sobre o signo da liberdade e os ícones de poder,

Esta é Catarse - uma crônica de Sophia Mendonça, que mistura técnicas de poesia e conto, sobre o signo da liberdade e os ícones de poder,

Esta é Catarse – uma crônica de Sophia Mendonça, que mistura técnicas de poesia e conto:

Me aprove e com louvor. Pois eu sou muito mais do que já quis ser. Sou uma tese finalizada, defendida e validada. Reconhecida inclusive pelo Chat GPT. Mas estou genuinamente feliz em ver você no meu lugar. Isso, com aquele projeto que descartei. Você agora realmente chegou no auge. E só me resta parabenizá-lo. Afinal, você conseguiu finalmente contar a sua história e a de tanta gente. Sonho que meu rosto ainda está na sua mente. Este é o rosto daquela que poderia ter sido a sra. “Tão incrível quanto você”. Este é o rosto da mulher que nunca vai chegar no mesmo lugar onde você está, você sabe disso. Este é, afinal, um rosto esquecido.

Catarse – uma crônica de Sophia Mendonça: o rosto esquecido

Quando acordo às seis da tarde após um pedido de desligamento e buscando um descanso merecido, ainda é muito cedo para comemorar o triunfo. Este vem apesar do boicote daquela criatura, a assassina dos filhos dos outros. Aquela incapaz de salvar alguém, aquela que sobe nas escadas da minha dor enquanto empurra o resto a um precipício, aquela que sequer pode te questionar. Isso ocorre porque agora você é quase tão bom quanto ela.

Dessa forma, ela foge para as elites após dar a mão aos pobres. E respira aliviada por não ser tão destruída e nem tão destrutiva quanto eu ou você. Então, ela chora pensando no que pode fazer com tanta desgraça, quem sabe pode transformar tudo em adubo, ela pensa ao comer restos de escargot. E se vestir de vidas, palavras e muito mais.

Em meio a bichas, barbichas e Pokemons

Penso que tudo isso talvez te coloque em dúvida se você deve jogar tudo em um buraco velho ou simplesmente deixar sair nas fantasias em meio a bichas, barbichas e Pokemons. Você percebe que precisa tomar cuidado para não deixar que alguém descubra sobre você e toda essa velharia. Esse relógio antigo e caro que ostenta você.

Mas o que é real, o que você quer vai muito além de suspensórios usados na frente de um espelho. Você está longe de querer o mesmo que eu. Você quer ser o mesmo que eu, só que com uma estampa muito melhor. Essa estampa louca de pedra, rosa choque puro, você não vai deixar intacta e intocada para poder sequer ser lembrada depois de morrer.

A mestre e os chefes

Aí você olha para o chefe da vez, um porto seguro em meio à desestabilização do prazer. E se pergunta se um dia eu vou saber o que é ser usada desse jeito. Tudo fica tão inócuo depois da explosão e da retórica que tenho que te parabenizar por ter me deixado sem argumentos. Enfim, você não precisa mais lutar. Você pode descansar. Essa desenvolvedora de sonhos, programadora da vida, não é mais prostituta nem cafetina. Assim, ela não é absolutamente ninguém mais.

Quem se aproxima dessa mestre não aprende mais nada a não ser o que ela mesma já sabe ou é. E tudo fica tão vazio, tão desprovido de ícones de poder quanto ela se tornou ou sempre foi. Mas ninguém se importa. E quando ela começa a tomar uma coloração bem do tipo vermelho paixão, você lembra àquela assassina da arte que essa é a cor do perigo. Então, a assassina pode agir para que você não suje suas mãos ásperas. E após destruir tudo o que toca, a assassina volta a ser humana, aparece novamente como pessoa, em meio a uma elite que não sabe nada dela. Embora essa elite sim, ela lembra de mim.

Catarse, crônica de Sophia Mendonça: o signo da liberdade

Eu estou aqui, em algum lugar próximo aos netos dessa elite por quem você se apaixonou, murcha e fraca como uma cobra que apenas rasteja. Apesar de tudo isso, estou feliz, talvez porque finalmente percebi que já tinha pago toda a minha dívida. Afinal, há muito tempo você teve o que queria de mim. E se eu nunca tive como comprar o que queria de você, agradeço por você ter me dado algo muito mais precioso. Isso aconteceu por mais mais que o meu apego à embalagem com o código de barras tenha me impedido de ver o conteúdo por tanto tempo.

Então, eu jogo fora a embalagem desse presente caro que você recebeu de um dos chefes e repassou a mim, achando que não precisava mais dele. E quando olho para o conteúdo vazio de uma folha de papel em branco usada por roteiristas do terceiro mundo, eu me assusto antes de perceber que o signo da liberdade ainda é muito maior do que qualquer ícone de poder.

Sophia Mendonça

Sophia Mendonça é jornalista e escritora. Também, atua como youtuber do canal “Mundo Autista desde 2015. É mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Assim, em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Além disso, em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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