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Autistas órfãos de familiares vivos

Santa Casa de Lagoa Santa, excelência da equipe médica nas áreas da cardiologia e clínica médica.

Autistas órfãos de familiares vivos. Sim. Eles existem. E existem também os pais órfãos de filhos vivos. Aliás, esses pais são idosos deixados à própria sorte pelos seus filhos. Essa tendência é um reflexo das transformações sociais contemporâneas e é cada vez mais comum.

Desse modo, os motivos por trás do abandono de idosos por filhos vivos podem variar. Por exemplo, questões econômicas, falta de tempo devido a compromissos profissionais e a busca por independência…

o mesmo acontece com os autistas e suas famílias. Também por questões econômicas, falta de tempo devido a compromissos de trabalho, o desejo de querer ajudar e não saber como, coisas que tais.

A solidão em momentos cruciais

Além do mais, antes de tudo, é preciso lembrar que somos seres sociais. Precisamos desse contato social com o outro. Porém, na contramão da sociabilidade, nossas relações estão, cada vez mais, superficiais. Restringem-se a um aceno de mão, um “depois a gente se vê”, ou ainda, “dias desses vai lá em casa, combinado?” Combinado. Mas como assim? Como estar combinado se um não sabe o endereço do outro?

Contudo, existem os momentos cruciais. A prova dos nove. Alguém morre, ou a mãe prepara uma festa de aniversário com carinho, a filha de 20 anos se casa, ou um filho é internado. Aí a realidade se escancara: ninguém aparece. Ou mesmo, telefonam. Mesmo que os mais distantes arranjem um jeito de burlar a distância e se fazer presentes de alguma forma. Doi perceber que os parentes mais próximos não aparecem, seguem a vida a saltitar, bem ali no seu quintal.

A vida não para, nem a dos familiares vivos.

Tudo bem. Sabemos disso. Mas diante da possibilidade de morte, não há quem não espere solidariedade. Certo? Errado? Não sei. Mas a expectativa é real.

E o que fazer com o nosso coração que chora a orfandade mesmo diante dos parentes vivos? Como eu posso entender que após uma cirurgia em que minha filha quase perdeu a vida, eu e ela sozinhas em um estado desconhecido, como entender que ela não tenha recebido nem uma visita de familiares?

E como depois de 2 anos, eu posso ignorar praticamente 15 dias de internação de minha menina, transformados em dias sem visita?

Não. Não posso ser ingrata. Houve amigos que enviaram mensagens de diversas regiões do Brasil. Um ou outro parente distante também. E houve ainda, amigos queridos, atentos às redes sociais e que sempre sinalizaram.

Amigos da prática da fé oraram insistentemente, pela vitória de Sophia. Aqui de BH, do Rio, de São Paulo, do Rio Grande do Sul. E nossos seguidores, E nossos seguidores? Que loucura. O nome comunidade é de fato, muito mais apropriado.

Autistas órfãos de familiares vivos?

Não podemos nos esquecer das orações da vovó, das tias avós. Que porto seguro! E o primo querido, discreto, sempre na dele que, desafia a visita meramente social e vem ao nosso encontro. Sempre com algum agrado em suas mãos e toda a ternura no coração.

Bem, pai e mãe não contam. É bom que estejam sempre ali. Entretanto, o que surpreende é encontrar uma equipe médica tão competente quanto humana. Ah, SUS, você abriga tanta gente e atendimento admiráveis!

Como sou grata. Que a sociedade entenda sua importância e não condene você à pena de morte, nas mãos de políticos algozes, que não possuem compromisso com o povo. E que a parcela de servidores igualmente patética e desonesta não sobressaia aos milhares de servidores comprometidos, antes de tudo, com a vida.

Pensando melhor, não há orfandade. Há escolhas de nossos verdadeiros familiares. E eu e Sophia somos cercadas por amigos e uma crescente comunidade que nos tornam imensamente felizes. Haja o que houver, a exemplo de Gonzaguinha, nós acreditamos é nessa rapaziada. Obrigada. Vocês valem a nossa vida!

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores 2022, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.

Mundo Autista

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