Selma Sueli Silva e Sophia Mendonça
Será que o autista tem maior dificuldade em ouvir “não”? Qual a função do “não” em nossas vidas? A vida de uma criança é cercada de “nãos”? Nossas vivências nos levaram a refletir acerca dos sentimentos que emergem quando os autistas ouvem respostas negativas na infância, adolescência e fase adulta e sobre como aprendem a lidar a lidar com isso.
Essas reflexões nos fazem perceber que o Mundo Autista é o mundo de todos nós: todo mundo e o mundo todo. Diante de um não é comum a pessoa se ressentir pois esse “não” é quase uma validação da sensação de inadequação com a qual a pessoa autista convive constantemente.
As crianças, de uma maneira geral, querem porque querem e pronto. Não aceitam um não como resposta. No caso de criança autista, essa característica vem potencializada. Já na adolescência, a pessoa autista está às voltas com a autodescoberta e, normalmente, não está gostando de como se percebe. O não, assim, vem com a carga da vergonha, de uma validação de pessoa estranha e diferente, que é como o adolescente autista se sente.
À medida que a pessoa autista amadurece, ela vai compreendendo a lógica do não. O diálogo é muito importante, pois dá sentido às circunstâncias e não se tem o ‘não’ somente pelo não. Há sentido para aquela negativa que traz mais benefícios que muitos sins que são distribuídos, pela lei do menor esforço. O atalho pode até levar você ao lugar desejado, mas rouba de você toda a riqueza do caminho completo, embora mais longo.
Dessa maneira, nada mais produtivo que um ‘não’ precedido ou sucedido de uma explicação curta e lógica. A pessoa autista sempre compreende as situações que fazem sentido. Não tenham dúvidas de que alguns nãos trazem mais benefícios às pessoas que muitos sins, jogados, como dizia nossa avó, para o alto, de grila*.
*de grila: Expressão usada quando alguém quer dar alguma coisa para uma turma e não sabe para quem. Então, ele fala: “vou jogar de grila” e todos se preparam para disputar quem vai pegar o que foi jogado.
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