O dia que se iniciou a zero hora de hoje, quando se trata do autismo, foi e está sendo, um dia de muitas reflexões. Apesar de ainda faltar 45 minutos para o meio dia. A primeira reflexão me veio por causa do Oscar/22.
Will Smith e Chris Rock protagonizaram no Oscar 2022, realizado no último domingo (27), um dos maiores climões da história de Hollywood. O comediante fez no palco uma piada sobre a alopecia de Jada Smith, mulher do ator, e levou um tapa dele por isso.
De fato, uma piada equivocada, capacitista, incorreta, lamentável. Pensei em ver outro tipo de tapa, já que Will era favorito ao Oscar de melhor ator. A resposta seria um tapa com luvas de pelica. Aliás, como ensina o professor Zenas Romano:
“Nos séculos XVIII e XIX, por exemplo, as rixas entre cavalheiros eram resolvidas num duelo. (…) O ofendido, que geralmente estava num círculo de amigos e conhecidos, com suas impecáveis luvas, ao ser ofendido pelo rival, retirava de uma das mãos a luva e, segurando-a com a outra mão, batia com ela suavemente na face do ofensor. Esse era o gesto público de desafio para um combate homem a homem.
Com o tempo, a expressão “dar um tapa de luva” passou a significar apenas “dar uma resposta inesperadamente poderosa e sutil” a um ofensor que tenha tentado humilhar publicamente o ofendido e a cuja ofensa o ofensor julgava ser o ofendido incapaz de revidar.”
Autismo e violência
Normalmente, situações violentas, gritos, palavrões, podem desorganizar o autista. E, certamente, gerar uma crise. Por isso, desde sempre penso em estratégias que me livrem de expor minha ira. Quando ela começa, é difícil controlar. Apesar de logo após, eu sentir vergonha e remorso.
Will não conseguiu se controlar. À violência capacitista reagiu com mais violência. Pobre mundo carente de uma cultura de paz. Pobres pessoas, que já pela manhã, desculpavam a violência física já que foi uma resposta à violência capacitista.
Violência estrutural – Autismo – um dia, muitas reflexões.
Assim, não se trata de quem proferiu ou executou a violência. É mais que isso. É dizer não à uma cultura da violência estrutural. Não aos dois atores. Pouco importa se pretos ou brancos, ricos ou pobres, anônimos ou famosos. Não podemos esquecer e perpetuar que, como diz a sabedoria popular:
Pau que dá em Chico, dá em Francisco.
Misturar ativismo com violência, é abrir mão de nosso humanismo. É nos transformar na violência que combatemos. É usar as mesmas armas que há anos, são usadas por um patriarcado que condenamos.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.