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Autismo – quem procura acha

No autismo, quem procura acha. Foi o que percebi com o passar dos anos. Meu diagnóstico aconteceu há sete anos. Minha filha estava com 19 anos, hoje tem 26. Se eu percebi algumas diferenças na minha menina desde cedo, foi por reconhecer características minhas (que me faziam sofrer) nela. Mas, de maneira geral, psicólogos e médicos desdenham dos sintomas do adulto. Assim, resolvi manter meu foco na minha filha. Eu já não era prioridade. Ainda assim, o diagnóstico dela veio quando ela já estava com 11 anos.

Entretanto, quando minha filha completou 19 anos, fez uma pesquisa com seu psicólogo e ambos concordaram que eu precisaria checar a possibilidade. O profissional até me indicou uma clínica. Não deu outra. Realmente, quem procura acha. É que a condição do TEA – transtorno do espectro do autismo é, como o nome diz, um espectro, com diferentes graus de exigência de suporte na vida diária. Além disso, a condição é, segundo pesquisas científicas, de origem genética. Então, há sempre a referência a um esquisitão na família. Foi como tentou me avisar o psiquiatra que havia dado o laudo para minha menina.

No autismo esquisitos éramos eu e alguns parentes próximos

Na verdade, é claro que o autismo vem de algum lugar. Por exemplo, à medida que minha filha crescia, ela observou atitudes em mim, tão ‘esquisitas’, quantos às atitudes dela. Chegou a dizer: “Mamãe, tudo que acontece aqui em casa, é colocado na conta de meu autismo. Acontece que você é meio ‘diferente’ também.

Em 2019, um estudo publicado pelo JAMA Psychiatry trouxe as seguintes confirmações: 

  • De 97% a 99% dos casos de autismo são causados pela genética;
  • Destes, 81% eram hereditários e
  • De 1% a 3% tinham origem em fatores ambientais.

Além disso, autismo não é doença e não tem cura. O que existem são intervenções com objetivo de melhorar a qualidade de vida e dar mais independência para pessoas que estão dentro do espectro. 

Autismo, quem procura acha

Portanto, depois de sete anos do diagnóstico de minha filha, eu também fui diagnosticada. Encontrei enfim, a explicação para muitos nós

em minha trajetória. Finalmente, adquiri minha identidade ainda que tardia. Eu deixei de me considerar burra, grosseira, estúpida algumas vezes, presa fácil para as pessoas, inadequada, incompetente, incapaz de me fazer entender, incapaz de entender as pessoas à minha volta, menos, menor, uma fraude… infeliz embora não soubesse porquê.

Hoje, observo algumas reações de minha menina. Reações que me irritam confesso. Mas, num piscar de olhos eu me lembro: ‘eu fazia exatamente a mesma coisa.” Por exemplo, eu tinha muitos pensamentos catastróficos. Hoje, desenvolvi técnicas para afastá-los. Afinal, meu coração é cheio de fé e esperança.

Outra coisa: sempre encontrava e apontava um culpado para o que desse errado numa situação. Quem mais sofria com isso, eram minha mãe e o namorado da vez. Pessoas mais próximas de mim. Um dia quase esfolei meu namorado que conseguiu passar a pontinha do nariz dentro do meu olho, ao se aproximar para me beijar. Ele foi salvo no último momento de minha explosão. Eu avistei minha lente na minha blusa. Mas, claro, deu tempo de falar horrores do nariz dele. Meus deuses de todas as direções! Foi uma situação aflitiva, é certo, mas não era para tanto, hoje eu sei. Nada como o amadurecimento e uma boa terapia.

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.

Mundo Autista

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