Autismo - Potencialidades e Habilidades Individuais: Desmistificando Rótulos - O Mundo Autista
O Mundo Autista

Autismo – Potencialidades e Habilidades Individuais: Desmistificando Rótulos

Victor Mendonça e Selma Sueli Silva

A mãe, o pai ou alguém da família diz que recebeu o diagnóstico do meu filho: “Ele é autista leve”. Agora é pensar nas habilidades, estimular para que nada demais aconteça? Não. O Transtorno do Espectro do Autismo se apresenta muito variável quanto às habilidades e potencialidades de uma pessoa. Todo ser humano tem a sua potencialidade, o seu brilho e o seu valor.

Às vezes ouvimos assim: “Que bom o Victor, por que o meu filho é autista severo…?”. O fato é que precisamos encontrar meios para que o autista severo, por meio da comunicação alternativa, possa fazer a diferença positiva na sociedade.

As pessoas têm muito medo da chamada “inteligência artificial”, muitos acreditam que as máquinas vão tomar o lugar do ser humano. Não! As máquinas libertam e liberam o ser humano para ele possa realmente agir com o que ele tem de melhor e se reconectar com a sua essência. Enquanto as máquinas fazem o serviço, a gente pode ter mais contato com a natureza, cuidar melhor da natureza.

Mas, só o autista leve tem habilidade e potencialidade para tanto? Não. E o autista leve, então, é gênio? Pode até ser, dentro do que a gente conceitua como gênio, mas o que é ser gênio? A inteligência é um conceito muito controverso na ciência, na pedagogia. O que a gente vê é o seguinte: é comum às famílias — todo mundo, inclusive já fizemos isso — querem compensar uma coisa com outra: “Seu filho é tão calado, mas ele é tão inteligente…”. Ou então: “Ele é muito sincero e arrogante em algumas coisas, mas pelo menos ele sabe muito sobre política e outros assuntos”.

É preciso olhar para cada ser humano, prezar cada um, tentar entendê-lo, porque todos se comunicam e a comunicação não é somente a linguagem verbal; comunicação é toda troca entre nós, e a gente pode observar cada pessoa. Quando você faz isso, você percebe: “Ela se encanta quando está com tintas na hora de pintar, ele se encanta na hora de desenhar”. E o que a gente faz: joga luz nas habilidades e procura estímulos para as limitações. Mas, na realidade, cada um de nós deve ser visto a partir de suas habilidades, é para onde a gente deve jogar luz. Por que são essas habilidades que abrem para a gente a possibilidade de administrar as nossas limitações e conhecer o que há de melhor no outro.

O conceito de deficiência: o que torna Selma Sueli Silva uma pessoa diferente, com deficiência. Exatamente as barreiras que ela tem por consequências de suas limitações, porque essas limitações causam prejuízos na sua vida. Porém, dependendo dos estímulos e do ambiente, dependendo do contexto, essas mesmas limitações poderiam não trazer perdas, prejuízos para a vida dela e, e ela não seria mais considerada uma pessoa com deficiência. O que a gente vai buscar nas limitações do ambiente que interferem e transformam a Selma e o Victor ou qualquer pessoa em pessoa com deficiência? A gente tem que conhecer as necessidades das pessoas e buscar a acessibilidade. Conhecendo as características, serão conhecidas as respostas.

Para tanto, é preciso evitar os rótulos. Não podemos afirmar que o Victor, por exemplo, pelo fato de ser autista, só pode ser bom em matemática e deve ser desestimulado a escrever um livro. É preciso olhar para a pessoa, o indivíduo que dar a resposta. Acima de tudo, há uma pessoa ali, não é o autismo ou uma pessoa com deficiência, pura e simplesmente.

No nosso caso, temos um motivo para não gostar de matemática: a matemática é maravilhosa, nos ensina uma lógica que está presente no português. Os grandes filósofos eram matemáticos também. Peirce, que é um dos estudiosos de Semiótica, também era matemático. Pois bem: não nos fazem descobrir a matemática do modo como deveria ser descoberta, com lógica. A maior parte dos educadores e do sistema de ensino se fecha em caixinhas, em fórmulas, em rótulos. A matemática explica sintonia de cores, explica sintonia de sons. É só saber ensinar e aprender, e não ter medo de ousar e buscar descobrir essa inteligência dentro da pessoa. Mesmo a pessoa com deficiência intelectual tem uma inteligência. A inteligência não é só o que você mede pelo QI, é o que você faz com o que tem.

O educador tem o cronograma, o planejamento do ano. “A cada mês o meu aluno tem que ser capaz de… em vários assuntos”. Ok. Todos os alunos vão cumprir aquele mesmo cronograma. Mas eles são iguais para cumprir aquele cronograma? Se eu vejo que esse aluno tem mais brilho nas matérias C e D, porque eu vou jogar mais força e ênfase nas matérias A e B. Percebem? Ele vai ter uma noção de tudo e vai desenvolver aquilo que efetivamente pode transformar a sua vida. E os educadores podem auxiliá-lo com isso.

Os educadores que fizeram e fazem a diferença na vida na nossa família são lembrados diariamente. Um abraço a todos eles, comprometidos com uma educação que é ferramenta para a transformação da sociedade, uma sociedade mais inclusiva e humanizada!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Marcelo Henrique de Souza
Marcelo Henrique de Souza
10 meses atrás

Simplemente incrível, sou estudante de Psicologia e portador de EM, trabalho com pessoas diagnósticadas com TEA, e esse texto conseguiu expressar o que eu penso de uma forma muito bem escrita, parabéns!