Autismo e Relaxamento - Higiene do Sono e do Ambiente - O Mundo Autista
O Mundo Autista

Autismo e Relaxamento – Higiene do Sono e do Ambiente

Victor Mendonça e Selma Sueli Silva

Selma: Eu e o Victor temos lista de transmissão VIP, de pessoas que se inscrevem no nosso Whats’app. Se você quiser, mande seu nome e de onde você é para o número (31) 98896-6412, e será incluído nessa lista de transmissão VIP.

Normalmente, no primeiro semestre, chegava maio e eu e o Victor já estávamos muito estressados. Maio era a marca de quando começávamos a dar uma rateada. É nesse momento que as famílias precisam criar um ambiente, eles usam até um termo interessante, higiene do ambiente, ou a higiene do sonho para você obedecer a rituais para que sua casa fique mais tranquila porque a tendência vai ser todo mundo ficar muito agitado.

Victor: Nós até entrevistamos um psicólogo aqui no canal que falou que assim como o riso, a ansiedade também é contagiosa.

Selma: Temos que ficar atentos para usar essas estratégias, senão o autista vai estressar muito mais, o irmãozinho com a irmãzinha do autista também, a mamãe, o papai, todo mundo… A escola…

Victor: Um estressa com o estresse do outro e aí fica aquela bagunça.

Selma: Victor, se eu pedir para você relaxar, o que você vai fazer?

Victor: Relaxar para o autista não é tão simples assim. Relaxar, na verdade, é um processo natural para a maioria das pessoas, para o autista nada é intuitivo e tudo é muito lógico. Então, relaxar, e até conversei sobre isso com o psicólogo, é uma coisa que simplesmente vem, naturalmente. Só que para o autista, até esse momento de relaxamento precisa ser criado e ensinado.

Selma: E aí gente, eu e o Victor apanhamos muito para saber disso, porque, primeiro, quando você pede para uma pessoa, e eu me incluo nisso, que já está com uma desordem, sem saber o que fazer, e a pessoa sugere: “Ah, relaxa! Vai assistir a um filme”.

Victor: Só escolher um filme já é o primeiro problema, né? E o segundo problema é que às vezes, falando por mim, estou tão sobrecarregado de estímulos sensoriais e sociais e eu já estou tão cansado que eu não consigo prestar atenção no filme. E olhe que eu sou crítico de cinema, eu adoro cinema, adoro assistir filmes… Exceto se for uma sala de cinema que já tem um conforto sensorial mais programado.

Selma: Ai você fala assim: “Nossa, mas quanta frescura!”. Bem vindo a esse fascinante mundo do autismo.

Selma: Não é frescura. O autista, para viver o dia a dia, enfrenta dificuldades sensoriais, que são desde um toque ao paladar, auditivo, e o processamento cerebral acontece de uma maneira diferente.

Victor: A forma como os neurônios se organizam é diferente e, além disso, estava lembrando aqui de algo que uma pessoa disse, não vou lembrar. Mas foi num grupo de autista, falando que interação social devia contar como atividade física porque para a gente é muito desgastante. E parece que não, pois estamos dando nosso melhor ao interagir com o outro, ainda mais eu e minha mãe, que trabalhamos com comunicação e interação social, palestras e tudo mais. A gente se doa muito para as pessoas, que é muito bom e adoramos esse contato vida a vida, mas quando chegamos, em casa ficamos exaustos.

Selma: Mas qual que seria a solução? De novo caímos no que já falamos outras vezes: higiene do ambiente, do sono, o ritual para hora de dormir.

Victor: Isso é muito importante, ter uma hora fixa para dormir e para acordar. É um desafio para mim, pois tenho insônia, mas é bom manter esses horários equilibrados. Às vezes será necessário o uso de medicação ou não, mas é importante manter equilibrados os horários para ter uma maior produtividade no dia. O problema é que se tiver problema com o sono, terá mais dificuldade de interagir socialmente, para fazer atividades diárias.

Selma: O círculo vicioso de novo, complicando a vida do autista. Item número 1: a cama é um espaço para dormir. O nosso cérebro precisa saber disso. Nada de brincar em cima da cama, nada de pular; não estou falando que o Victor faz isso, só estou pensando em todos os meninos e meninas, porque o cérebro do autista, muito mais que o cérebro dito típico, vai ter que entender que na hora que estiver na cama vai dar o comando “Dormir”. Da mesma forma, ele precisa entender que aquela roupa que ele colocou o passo sequencial significa dormir. Importante ter: um pijama, uma roupa só para dormir. Tem gente que gosta de dormir só de cuequinha ou de calcinha. No caso de quem é hiposensorial, precisa ter aquelas cobertas que têm elástico para se sentir confortável e seguro, porque o nosso cérebro só desliga quando sente que está em segurança.

Sentiu segurança? Deixa de estar em estado de alerta.

Ou se é hipersensível, então não precisa de nada, deixa a pessoa na dela para dormir.

Deixa eu me ver mais alguma coisa que eu queria falar com o Victor.

Difíceis são as pessoas que e falam “Vou dormir” e apagam. Não. Então saibam, quando você deita tem um tempo para pegar no sono. Não significa que você não conseguiu que você não vai pegar. Porque se você levantar, você está dando oportunidade para o seu cérebro ir relaxando. Aí vêm algumas coisinhas, né? Um mantra, uma música de fundo, um óleo essencial com um cheiro convidativo. Então é isso, gente. É na hora do sono que nosso corpo processa tudo que a gente aprendeu e se prepara para ser cada vez melhor.

Victor: E pensando em autistas que sejam crianças mais velhas, ou adolescentes ou adultos, quando passou muito tempo e você não consegue dormir de gente nenhum, faça uma coisa chata e durante o dia faça uma coisa prazerosa para você conseguir manter o ritmo do seu sono da noite. Nós vamos trazer profissionais para explicar a questão do sono, mas nosso cérebro precisa se acostumar com esse ritmo de sono natural, digamos assim.

Selma: O que o Victor quer dizer é que se à noite tiver fazendo algo legal, ninguém quer dormir. Os jovens que o digam, na balada.

Victor: Tem que fazer uma coisa chata. Balada é outra história. O dia que quiser, pode ir.

Selma: O que eu estou querendo dizer é que as coisas gostosas devem ser feitas em momentos que você tem tempo para aquilo. À noite em que você está procurando dormir, vamos supor que você acha chato estudar, aí você vai tentar estudar.

Victor: E durante o dia também é importante a gente pensar em algumas coisas que vão relaxar a gente. E nesse ponto é importante fazer uma organização, que não precisa ser uma programação rígida, mas sim flexível, pois diminui a ansiedade. Você sabe os momentos que vai poder relaxar, e aqueles em que você vai ter uma atividade ou outra coisa. Você consegue balancear melhor isso tudo.

Selma: Porque senão você passa o dia inteiro tentando pensar como fazer seu dia produtivo. Vai tentando e ficando nervoso, entediado, chega de noite e tem uma crise. Vamos tentar evitar isso, com esses exemplos de estratégias que demos! A gente ainda vai falar mais sobre esse assunto.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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