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Autismo e relação com a terceira idade

O autismo e relação com a terceira idade costuma ser surpreendente. Como é a vida das pessoas idosas em sua família? No Brasil, há um número cada vez maior de pessoas idosas, aquelas com 60 anos ou mais de idade. No entanto, sabemos que, na prática, a pessoa poderia ser considerada idosa depois dos 80 anos. Na contramão dessa realidade, a sociedade insiste no etarismo. Em resposta, há comunidades 50+ que une pessoas para se proteger do preconceito social. Dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, mostram que existem no Brasil quase 33 milhões e 900 mil pessoas com mais de 60 anos. Em 2060, a expectativa é que este número chegue a mais de 58 milhões, sendo superior a 25% da população brasileira.

O que percebemos na cultura brasileira é que pais idosos podem se tornar um fardo para os filhos. Para o autista, de uma maneira geral, se os pais cuidaram dele quando eram jovens, faz sentido que ele cuide dos pais agora que estão velhos. Certamente, o que mais conta é a relação afetiva que costuma ser forte entre pais e filhos autistas.

O que o autismo tem a ver com a terceira idade

Há um outro aspecto, pouco estudado por nossa cultura capitalista, que só enxerga valor na pessoa/corpo produtivo. Na verdade, deveria ser medido o quanto estar junto à mãe/pai idosa faz bem à saúde mental dos filhos e dos netos. Independente da idade.

Neste quesito, sinto-me privilegiada. Há uns 3 anos estou bem mais mais próxima à minha mãe. E, agora, desde o início de 2023, ela mora comigo e eu moro com ela. E não, isso não é a mesma coisa já que a gente se reveza entre a casa de mamãe, num condomínio bucólico, há 1 hora e meia de Belo Horizonte e meu apartamento em BH.

Desde o início deste mês, minha filha, que estava conosco, mudou-se para o sul do país para fazer o doutorado. Então, eu deixei de ser a responsável maior de nossas casas. Mesmo que eu e mamãe dividamos todas as decisões de casa, eu agora, me sinto a menina da mamãe. Com todos os benefícios de quem tem bem perto de si, uma grande fonte de sabedoria. Ela me dá conselhos, ‘pitos’ (sermões), elogios, ensinamentos e, acima de tudo muito amor. E eu, claro, sou toda gratidão a essa mulher que, a despeito da mobilidade reduzida pela doença de parkinson, divide comigo seus saberes acumulados em 82 anos de vida bem vivida e a pleno vapor! Nosso tempo e o hoje. O palco de nossa ação conjunta é aqui e agora.

Envelhecer um privilégio ou um castigo

O envelhecimento é a etapa mais temida pela própria pessoa e por aqueles que a rodeiam. Isso devido às perdas em vários aspectos, sentidas nessa fase do ciclo da vida da pessoa. Neste contexto, não é raro também que filhos e responsáveis demonstrem, explícita ou implicitamente, um sentimento de mal-estar, uma certa culpa, por não manterem os seus pais idosos no ambiente familiar onde antes viviam.

Entretanto, o envelhecimento é visto de forma diferente, conforme a cultura de cada país.

A China, o Japão e a Coréia são, em sua maioria, confucionistas. Confúcio foi um filósofo chinês. Ele destacou a instabilidade social e hierárquica, fazendo com que na cultura do idoso, eles estivessem no topo das prioridades familiares e sociais. Uma de suas heranças é a piedade filial, ainda presente nas famílias mais tradicionais.

No Japão, a velhice é sinônimo de sabedoria. A cultura do idoso oriental têm como tradição cuidar bem e reverenciar os idosos. Isso vem de uma educação milenar em que dignidade e respeito são dois valores cultua dos por eles.

Os mais jovens têm orgulho dos sacrifícios realizados pelos idosos em benefício da família. Também é comum que os anciões da família sejam consultados antes que qualquer decisão importante a ser tomada. Desse modo, o aniversário de uma pessoa idosa é festejado de forma solene. Por isso, o homem, ao completar 60 anos, na cultura do idoso, ganha o direito de usar um blazer vermelho, a cor dos deuses.

A terceira idade no Brasil

Diferentemente do Brasil, no Japão não se pergunta a idade a uma mulher jovem, mas se pode perguntar a idade de uma idosa. Ela então, responderá com orgulho ter mais de 70 anos. A cultura do idoso no Brasil é praticamente inexistente. Aqui é feio envelhecer. Aliás, o comum é que as pessoas mais velhas se tornem invisíveis para a sociedade, de maneira geral.

Na China, com mais de 178 milhões de idosos em 2010, precisou ser criada a Lei do Direito dos Idosos, que obriga que filhos visitem os pais com frequência, independentemente da distância de onde morem. Para os filhos que desrespeitarem, a punição é severa, varia de multa e chega até à prisão. Essa foi a forma encontrada para amenizar o caso de abandono e isolamento de pais idosos.

Aqui, no Brasil, existe também o O Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003) tem o objetivo de garantir os direitos à pessoa idosa, com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Sete principais direitos dos idosos, de acordo com o Estatuto

Atendimento preferencial em órgãos públicos e privados.

Acompanhante em hospitais em tempo integral

Medicamentos gratuitos, especialmente os de uso contínuo.

Transporte público gratuito, a partir dos 65 anos.

Isenção de pagamento de IPTU, para aposentados que ganhem até 2 salários mínimos.

Pensão alimentícia dada pelos filhos.

Prioridade na tramitação de processos na justiça.

Índios brasileiros

A cultura oral é muito presente nas tribos indígenas brasileiras, pois são os anciãos que carregam consigo a lembrança de suas crenças, tradições e valores. Sua história é preservada por meio de relatos narrativos, nos quais o idoso é um depositário de memórias. Cada tribo tem suas tradições e suas peculiaridades.

Judeus – O idoso judeu é muito respeitado na tradição judaica. Possui experiência e conhecimento, e sabe que deve transmitir para seus descendentes, por isso as festas são tão importantes, são passagens bíblicas. Para uma criança judia, a palavra de um idoso é sinônimo de respeito e obediência.

Assim, ao enviuvar, depois do ritual de sete dias de rezas, os filhos e o idoso irão decidir juntos como será seu futuro. Morar com um dos filhos ou seguir a vida morando só e, se necessário, contratar uma equipe de profissionais para seus cuidados futuros. Há casos em que um filho pode se mudar para casa do pai ou da mãe. Não há regra, é uma decisão coletiva, respeitosa e amorosa.

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora no projeto multimídia Mundo Autista D&I, escritora e radialista. Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial (IEC/MG), ela atua como editora no site O Mundo Autista (Portal UAI) e é articulista na Revista Autismo (Canal Autismo). Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+. Prêmio Microinfluenciadores Digitais 2023, na categoria PcD. É membro da UNESCOSOST movimento de sustentabilidade Criativa, desde 2022.

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