Autismo e a Baixa Tolerância à Frustração: Minha Batalha Diária e Como Eu Lido com Ela. Texto de Sophia Mendonça para o Mundo Autista.
Se tem uma coisa que eu preciso confessar sobre minha experiência como autista, é esta: a minha maior dificuldade é a baixa resistência à frustração.
Isso é incrivelmente complicado no mundo em que vivemos.
Vivemos em um ritmo que não perdoa. As coisas raramente saem exatamente como planejamos, e a interação social é cheia de nuances e interrupções. Para mim, isso significa que o potencial para a frustração está em toda parte.
Quer um exemplo simples? Estou em um diálogo, talvez até animada, com mais de uma pessoa. No meio da minha fala, alguém me corta e desvia o assunto.
Eu sei que, para muitos, isso é apenas um pequeno “tropeço” na conversa. Mas, para mim, a frustração é imediata. É como se uma engrenagem interna travasse. Naturalmente, eu vou ficar frustrada.
E o problema é que é muito fácil se sentir assim no mundo em que vivemos. A gente fica frustrado várias vezes no nosso dia a dia, por coisas grandes e pequenas.
Por muito tempo, minha reação imediata era… bem, reagir. Mas eu aprendi, da maneira mais difícil, que não posso descontar essa minha dificuldade com a frustração na outra pessoa.
Por quê? Porque isso gera uma bola de neve.
Minha frustração gera uma reação defensiva ou chateada, que por sua vez gera uma reação na outra pessoa, e o que era um pequeno incômodo se transforma em um conflito. Às vezes, essa bola de neve cresce tanto que fica difícil de controlar, tanto a situação externa quanto o que estou sentindo por dentro.
Muitas vezes, isso pode ser o gatilho que me leva direto para uma crise.
Então, o que eu faço quando sinto aquela onda de frustração subindo?
Uma coisa me ajuda muito nesses momentos: prestar atenção no meu corpo e na minha respiração.
Pode parecer clichê, eu sei. Mas, no instante em que sinto o “nó” da frustração se formando, eu paro de focar no motivo e passo a focar em mim. Sinto o ar entrando, sinto meus pés no chão.
Com essas táticas, sinto que fico mais preparada.
É como se eu criasse um pequeno espaço entre o gatilho e a minha reação. Nesse espaço, eu consigo:
Não é uma solução mágica, e ainda é um desafio diário. Mas aprender a gerenciar minha reação interna foi o passo mais importante para navegar em um mundo que nem sempre é gentil com a nossa forma de sentir.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UFPel). Idealizadora da mentoria “Conexão Raiz”. Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).
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