Então, já resolveu? Pergunta minha mãe. É que hoje, não acordei bem e nem melhorava com o passar das horas. Assim, comecei a entrar em pânico. Autismo, detesto ir ao médico. Por exemplo: a investigação dos sintomas é cruel. O que você sente?, eles perguntam. Não sei. Aliás, como assim? Em que aspecto? Desse modo, fico confusa. Ou seja, via de regra, eles pensam que os faço perder tempo. Mas, caramba, é tão difícil seguir o protocolo de acessibilidade para autista?
Contudo, nem me perguntem qual seria. Eu sei de mim. Mas não sei se todo autista sente a mesma dificuldade que eu.
Dessa forma, meu terror começa na constatação de minha necessidade de ir ao médico. São seres imprevisíveis. As variáveis são muitas: a maioria é distante, fria, detesta ouvir sua opinião sobre o prognóstico. Além disso, odeiam quando você faz perguntas. Afinal, quer entender o que se passa com você. Nunca entendi essa má vontade. Não é normal essa curiosidade? Aliás, somos os maiores interessados em resolver o que nos aflige. Mas, vamos começar do início para entender o meu estresse.
Se você acorda mal, com dores que nem sabe onde com clareza, e o mal estar só aumenta, então é um caso de urgência. Neste momento, pioro só de pensar no pronto atendimento. Tento checar o hospital com melhor pronto atendimento na lista do meu convênio. Qual o quê.
Ao chegar, mesmo que o protocolo seja realizado como tem de ser, com divisão de casos Por exemplo, o protocolo por cores define ordem de atendimento dos pacientes. Esse protocolo utiliza classificação por meio de cores, que sinalizam o potencial de risco para a vida, agravos à saúde ou grau de sofrimento dos pacientes. A questão da prioridade de atendimento costuma ser ignorada. E é nesse ponto que começa todo o estresse.
Emergência (atendimento imediato) — Vermelha: risco iminente de perder a vida. As situações para o atendimento imediato são paradas cardiorrespiratórias, coma, trauma de crânio, falta de ar intensa, crise convulsiva, intoxicação, choque elétrico, angina, derrame, hemorragias e fraturas. Atendimento na UPA ou no PA.
Urgência (até 30 minutos) – Amarela: O paciente precisa ser avaliado. Tem condições clínicas para aguardar por meia hora. São quadros de dor intensa de início imediato, alterações súbitas de comportamento, agitação, confusão mental e desmaios, dor torácica intensa, crise asmática, diabético com alterações, dor forte, sangramento, febre (acima de 40 graus), luxação, entorse e acidentes por animais peçonhentos. Atendimento na UPA ou no PA.
Pouco urgente (até 240 minutos) – Verde: O usuário pode esperar atendimento ambulatorial, com prioridade sobre o não urgente. A classificação verde se refere, por exemplo, a pessoas com idade acima dos 60 anos, pacientes escoltados, deficientes físicos, enxaqueca, dor moderada, abscessos, vômito e diarreia. Atendimento na UPA ou no PA.
Não Urgente (até 360 minutos, se aguardar na UPA ou PA) – Azul: Caso de menor complexidade, sem problemas recentes. A recomendação é procurar atendimento em Unidade Básica de Saúde (UBS) e Unidade de Saúde da Família (USF). Então, nessa lista da cor azul estão sintomas crônicos por mais de 24 horas, troca de receita, atestado, encaminhamento para especialistas, revisão com pediatra, acompanhamento de doenças crônicas, check-up e exames de rotina.
Sabemos que esses prazos não são mantidos. Além disso, o autista sendo pouco urgente, para essa prioridade ser razoável ao caso, o ambiente deve ser inclusivo, para se pensar numa espera de 4 horas. Isso, geralmente, não é levado em consideração. Quase sempre tenho crises. Contudo, mesmo estando em ambiente médico, sou tratada como histérica e não como autista. Por isso, detesto ir à médico.
Não me alivia quando tenho de marcar consulta. Assim, se for particular, sem problemas de horário. Já pelo convênio… o tempo de espera quase nunca é inferior a 20/30 dias. Contraditoriamente, o horário agendado não garante atendimento certo. Assim, mesmo nesta modalidade, a espera parece ser protocolar.
Então, funciona assim: ai de quem questione esse fato. Quem trata vidas não pode se ater a horários. Foi o que um médico me disse certa vez. Será? O atraso se deve a isso? E os encaixes, os representantes de laboratórios. Aqui também, a prioridade para autistas costuma não ser observada como deveria ser.
Quando chego até o médico, já estou me sentindo três vezes pior que antes. Trânsito, espera, ansiedade. Tudo isso me desorganiza. Quando vêm as perguntas, piora. Ou seja: Sente o que? Onde? Qual o grau da dor? Foi sempre assim? Quantas vezes já aconteceu? Isso depois de um demorado relatório preenchido na sala de espera.
Assim, me pergunto: a ida ao médico é solução ou, simplesmente, tortura chinesa? Sei lá. O que quero dizer é que se faz tarde. Continuo sentindo mal estar. Entretanto, não consigo me decidir se vou ou não ao médico.
Texto de Selma Sueli Silva
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Me identifiquei 100%! Mesmo com a CIPTEA, nos ignoram. Minha última vez na emergência foi um show de horrores, eu sempre mostro a carteirinha, mas só faltam jogar fora, e "perderam" meu nome no sistema. Também não sei descrever dores, começo a fazer comparações, paralelos...Qual é este "protocolo de acessibilidade para autista"? Onde o encontro? Acho que vou começar a passar nos sites de hospitais e clínicas e distribuir algum material informativo. Me sinto pessimamente tratada, na maioria dos ambientes, fico um caco.
Maria Cristina, dentro do protocolo de prioridades, existe também que caso médico é mais prioritário. Eles se aproveitam disso. Eu consigo entender, mas solicito um ambiente menos estressante para que eu possa aguardar o atendimento. Contudo, se vc se sentir desrespeitada, envie email contatomundoautista@gmail.com, para lutarmos juntas por nossos direitos. Mas vc pode ainda, chamar a PM (190) e fazer um Boletim de Ocorrência. Abraço,
Tenho procurado saber se o fato de ser autista tem a ver com esse pavor que eu tenho de médico, hospital, etc... Acabei de marcar uma consulta de rotina e a crise de ansiedade ta aqui... Isso é horrível... A espera é massacrante, exames e espera de resultados, angustiantes... Obrigada! Seu relato me ajudou!
Sim, eu sinto o mesmo!