Autismo, comunicação e a busca por um diálogo real quando a intenção é mal interpretada. Assumindo o controle: a sua felicidade em suas mãos.
Em meio a um mundo cheio de preconceitos, pessoas autistas frequentemente enfrentam desafios únicos na comunicação. Às vezes, comportamentos que parecem grosseiros ou agressivos podem ser mal interpretados como falta de educação. Isso ocorre quando, na verdade, eles são uma tentativa desesperada de expressar um incômodo ou frustração.
Então, é fácil para alguém de fora rotular essas manifestações como uma “crise” ou um “colapso mental”. Portanto, essa pessoa usa a visão distorcida que a sociedade tem do autismo para desqualificar qualquer crítica ou ponto de vista. Isso não apenas sufoca o diálogo, mas também isola a pessoa autista. Dessa forma, a impede de ser vista e ouvida de verdade.
Imagine querer explicar algo importante, mas não ter as mesmas ferramentas sociais do outro para fazer isso de forma “adequada”. Essa é a realidade de muitos autistas. O que parece uma fala agressiva é, muitas vezes, apenas um esforço intenso para estabelecer uma conexão, para ser compreendido. Ou seja, a intenção é justamente a de dialogar, de ser ouvido.
No entanto, a resposta que recebem é frequentemente de rejeição. A outra pessoa, já cheia de preconceitos, pode se esconder atrás do “medo” de uma crise, mesmo sem qualquer indício disso. Essa atitude acaba reforçando o ciclo de exclusão. Assim, a pessoa autista é vista como um transtorno, não como um ser humano com sentimentos e opiniões.
Para muitas pessoas autistas, a rigidez do pensamento é um traço marcante. Portanto, uma regra é uma regra, uma promessa é uma promessa e a justiça deve ser sempre respeitada. Essa ausência de “áreas cinzentas” torna a hipocrisia e a injustiça extremamente difíceis de tolerar.
Então, quando a outra pessoa quebra as próprias normas e se comporta de forma desonesta, isso vai contra tudo o que o autista acredita. Essa frustração pode se manifestar de maneiras que são facilmente mal interpretadas como agressividade. Mas a verdade é que essa reação é um reflexo de um senso de justiça profundo e inabalável.
Para quem é autista, acaba se tornando fácil culpar o outro por essa dinâmica. Assim, responsabiliza a pessoa que te isola, que te julga, que se aproveita dos preconceitos sociais. Mas a verdade é que você não pode controlar as ações dela. A única coisa que você pode controlar é a sua ação.
Assumir a responsabilidade por mudar essa relação pode parecer um peso, mas é na verdade um imenso poder. Não se trata de dizer que o outro está certo, mas sim de focar em seu próprio comportamento. Por isso, a maneira de transformar a situação é mudar a forma como você reage a ela. Isso porque a felicidade não depende de como os outros te percebem, mas de como você se relaciona consigo mesmo.
Contudo, mudar a dinâmica não significa aceitar a injustiça. Significa parar de esperar que o outro mude e, em vez disso, focar em suas próprias atitudes. Ao fazer isso, você pode reverberar uma energia diferente. E talvez, apenas talvez, fazer com que a outra pessoa te veja com outros olhos.
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UfPel). Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).
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