Asperger (Autismo Leve) e TDAH - Diferenças - O Mundo Autista
O Mundo Autista

Asperger (Autismo Leve) e TDAH – Diferenças

Victor Mendonça e Selma Sueli Silva

O assunto de hoje é polêmico: Asperger x TDAH – as diferenças entre o Asperger (autismo leve) e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade). No ano passado uma mãe nos procurou porque o filho dela recebeu o diagnóstico de TDAH. As coisas não estavam fluindo, não estavam rendendo, ela já tinha saído do país e voltado. Quando ela falou, percebemos muitas características do Asperger, ao que a mãe respondeu: “É isso mesmo. Ele foi diagnosticado, agora, como autista leve”.

Na realidade, o Asperger e o TDAH podem co-ocorrer. A gente está falando de “Asperger x TDAH”, mas não significa que vão aparecer isolados. Aliás, como o autismo e o TDAH compartilham genes, o Asperger costuma ter, em 70% dos casos, o TDAH associado.

Isso é muito sutil e o profissional tem que ser muito bom para perceber nuances, principalmente nos casos mais “graves” de TDAH e mais “leves” de autismo. Então, esse menino não para quieto, esse menino não dá sossego, esse menino é hiperativo. Será? Ou esse menino é um autista que tem transtorno sensorial e fica muito agitado em função disso. E também pode ser o caso de um autista que foi retirado da rotina, e por isso entrou em crise, se desconstruiu.

É mais ou menos assim: o autista se apega a rituais para estabelecer uma organização que tem dificuldade de preservar. O TDAH é mais impulsivo, energético, não para. O autista consegue manter o hiperfoco, se concentrar, não presta atenção mais em nada, mas quando o assunto é o hiperfoco, ele tem uma concentração bacana. Já o TDAH tem dificuldade de concentração, qualquer que seja o assunto.

Tanto o autista quanto o TDAH parece que não seguem regras, ousam para além das regras sociais, mas, por motivos diferentes. O autista desconhece a regra, então as infringe sem saber que está infringindo. Quando ele conhece a regra, fica mais fácil se controlar e não infringir mais a regra. No caso do TDAH, o autista conhece a regra, mas é impulsivo, é do contra. Não é por maldade, é uma característica neurológica da pessoa. Ele quer descobrir, que mexer. Um exemplo: “A carteira do Victor: Por que eu não posso olhar? Por que alguém falou que não podia? Vamos lá ver o que tem na carteira do Victor”.

Outra questão que é que ambos são vistos como pessoas diferentes em termos sociais, com dificuldade de fazer amigos, mas por motivos distintos, novamente. O autista é visto como esquisitão (ou esquisitona), o/a “nerd” (é sempre bom lembrar que existe o autismo no feminino), o TDAH é visto como mais impulsivo, irritante, perturbador. Então, o TDAH é aquele menino que “não tem limites”. São aqueles casos em que a mãe dessas pessoas não consegue que elas fiquem quietas.

O autista, ao entrar em crise, externa esse conflito, essa inadequação que está acontecendo com ele. O TDAH, normalmente, expressa contrariedade quando não está gostando. Ele expressa isso muito mais do que o autista leve, com expressões faciais mais evidentes. Seria muito mais birrento. “De tudo esse menino faz uma birra, tudo tem que ser do jeito dele.” Quando chama o autista, ele parece que não ouve. A mesma coisa ocorre com o TDAH, mas, mais uma vez, por motivos diferentes. O autista geralmente está centrado naquilo que está chamando a atenção dele por muito tempo, diferentemente do TDAH. O TDAH não ouve porque ele está olhando tudo, está prestando atenção em tudo, o que, aliás, é outra característica. A pessoa com TDAH começa a fazer uma coisa e logo descamba para outra, e os fatores externos influenciam muito nessa pessoa. Essa questão de começo, meio e fim traz muitas diferenças, muitas dúvidas, é por isso que o diagnóstico é fantástico, você vai se descobrindo.

Palavra para 2019: Empatia. Antes de julgar qualquer pessoa, pense que existe um contexto, que pode existir algo que não seja uma simples falta de limites, de educação. E a gente pode ir trabalhando isso com a ajuda dos profissionais e da equipe multidisciplinar. Então, vamos combinar: se eu não puder ajudar, eu vou sair de perto, porque atrapalhar não está valendo. Vamos levar tudo com leveza, um ajudando o outro.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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Kelvyn
Kelvyn
1 ano atrás

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Maria
Maria
10 meses atrás

Vc esqueceu de mencionar que no TDAH existe três tipos: o predominantemente desatento, hiperativo e o misto. No caso vc falou apenas do hiperativo. Eu sou do tipo predominantemente desatento oq é totalmente o oposto desse que vc citou. E qual a implicação disso? Muita, uma mãe que tiver preocupada com seu filho, ao ver as características mencionadas por vc vai achar que o TDAH se resume apenas ao tipo hiperativo, prejudicando a compreensão com relação aos desatentos e os mistos.

Cesar
Cesar
Reply to  Maria
9 meses atrás

Exatamente, não faltam profissionais totalmente capacitados assim como um artigo dessa importância jamais deveria deixar de explicar exatamente os 3 tipos de TDAH …meu filho tem o mesmo diagnóstico que o seu “desatento” além do autismo nível 1.

Juliana
Juliana
1 mês atrás

Você disse que o TDAH não tem hiperfoco não importa o assunto.. errado, TDAH tem hiperfoco