A sinceridade é uma das qualidades mais enaltecidas da pessoa que está no espectro autista. Mas com o crescimento do número dos diagnósticos tardios, isso mudou. É que o adulto que não teve tratamento e estímulos passa a se valer de estratégias para a interação social. As máscaras do autista que quer ser aceito são, na verdade, estratégias para tentar dar conta dos códigos sociais.
Uma seguidora do Mundo Autista, escreveu:
Só hoje descobri que existe esse grupo e já me inscrevi. Que energia boa q vocês tem! Agradeço imensamente! A única coisa que não entendi bem foi sobre as “máscaras que o autista usa”. Shakespeare dizia que o “mundo é um palco” e que todos nós usamos máscaras para cada situação que nos defrontamos. Então, a partir dessa afirmativa, boa parte da humanidade seria autista. Afinal, nenhum de nós temos o mesmo comportamento em casa, com amigos, no trabalho. Além disso, também não teria em viagens, no lazer etc. Essa é a minha dúvida. Ficaria muito feliz caso alguém possa esclarecer minha duvida. Abraço forte!
Excelente dúvida. Quando a pessoa típica, considerada normal, usa máscaras, é algo intuitivo para a interação nos mais diversos grupos sociais. O autista não consegue fazer isso, pois uma de suas principais características é ser autentico, sem filtro social. E os típicos, por que usam máscara? Para se proteger e agir de forma mais próxima ao padrão coletivo.
E o autista? As sutilezas sociais não são intuitivas. Ele tem de aprender esse mecanismo de interação social – o uso de máscaras sociais. Aliás, a maioria dos autistas não entende qual o problema de ser sincero em tudo. Entretanto, esse é um problema, sim. De maneira geral, a sociedade não aceita. Não resistiria a uma população super sincera. Algumas mentirinhas são aparatos sociais para poupar a pessoa. Por exemplo, uma pessoa está em fase terminal de câncer. Você vai visitá-la e ela pergunta com olhos tensos: “Estou acabada, não é?” Para que responder que sim? A resposta abranda uma realidade que já é, por si só, muito cruel.
Portanto, aprender tais sutilezas, as nuanças da interação social, exige muito esforço. E traz um desgaste incalculável para o autista. Ou seja, o autista ‘topa’ o desafio por que quer MUITO ser acolhido, fazer parte. É o desejo de se ‘enquadrar para ser aceito’. Por isso, o diagnóstico, mesmo tardio, liberta.
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E quando não sei qual são as minhas máscaras? Vivi 35 anos até descobrir sou autista.
Já tenho um laudo pela neurologista, mas para ser aceito fazer o RG novo com o símbolo de autismo, preciso de um laudo médico, no caso um psiquiatra e estou começando esse processo.
Provavelmente com ele devo descobrir quais são as máscaras e o que sou eu. Faço terapia, mas como recentemente mudei o foco da terapia, ainda estou fazendo ajustes com a terapeuta.
Ainda tentando entender sobre autismo e descobrir aonde estou, o que sou e o que tive que mascarar. Tantos anos que tive que me adaptar ao mundo e depois que descobri, continuo me adaptando, pois nem todo mundo próximo está disposto a me entender. Ainda ouço que preciso me adaptar a tudo, como se nunca tivesse me adaptado a tudo do mundo desde que me lembro como gente.
Começo a entender um pouco algo e comento pra um familiar e ouço que não devo me prender a apenas isso, mas estou tentando entender algo que não entendo por completo e não entender, me faz procurar por respostas pra saber do que se trata. E hoje se tornou meu novo hiperfoco depois que tive o diagnóstico. Isso porque falo uma vez a cada muito tempo, deixo passar vários dias pra não parecer que sei falar apenas disso. Já é complicado meu interesse restrito.
Poderia citar alguns tipos de máscaras sociais em alguma postagem futura?
Vitor: è assim mesmo. Meu diagnóstico tem 5,5 anos e até hoje, descubro algo novo. Entretanto, faz toda a diferença saber o porquê me sinto tão diferente. Com o temó, terapia adequada, nossa qualidade de vida aumenta. Conte Comigo e com o Mundo Autsita. Abraço, Selma.