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As festas de fim de ano e o autismo

As festas de fim de ano e o autismo. Foto do letreiro de Feliz Natal, iluminado

As festas de fim de ano e o autismo ou suas implicações para pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo – TEA. Falar sobre isso é pensar em três momentos da vida da pessoa autista: infância, adolescência e adulto.

Festas de fim de ano e o autismo

Na infância

Infância: Nesta fase, tudo pode ser complicado pois vai depender das características da criança dentro do espectro. Assim, como regra geral, a agitação da data, entre adultos e no ambiente, podem ser gatilho para que a criança se mostre mais irritadiça. Ou mesmo, pode levá-la a crises. Portanto, quanto mais essa movimentação for ritualizada e antecipada à criança, melhor para este e os outros natais e ano novo.

Na segunda infância: A partir dos 7 anos, até os 10, a criança chega ao fim de ano bastante cansada. Assim, se a movimentação de fim de ano exigir muito dela, ela poderá apresentar muita irritação e até uma certa agressividade. A quebra de rotina com as férias, mais essa movimentação, a mudança do cardápio, tudo isso pode contribuir para crises mais constantes. Entretanto, se a criança já contar com essa quebra da rotina e tiver sido preparada para a atipicidade da data, ela estará feliz, mas pode apresentar muita ansiedade até o momento dos encontros e ceias de fim de ano. A melhor coisa a fazer é, também antecipar os que vai acontecer para essa criança e estudar uma forma criativa de ela participar dos preparativos, enquanto aguarda o dia do encontro.

Adolescência

Para os adolescentes, o ambiente e as companhias contam muito. Então, se ele foi se habituando a comemorar com rituais em família, estará tudo bem, se suas especificidades sensoriais e alimentares forem respeitadas.

Para aqueles adolescentes, entretanto, que receberam estímulo para fazer parte de uma ‘turma’, ele pode não estranhar estar com amigos. Mas nos dois casos, ele será a figura ‘estranha’ do encontro porque para o outro e para ele, em momentos assim, suas diferenças com os demais se evidenciam. Seria interessante, portanto, aproveitar a oportunidade e trabalhar com todos a inclusão.

Fase adulta

Para o adulto temos algumas variáveis. Ou seja, para aqueles que descobriram o diagnóstico tardio, eles passam a entender o motivo da ansiedade, irritação, alegria ou tristeza desmedida. Além disso, conta, também, a questão da hipersensibilidade sensorial. Mas, certamente, esse adulto já desenvolveu suas próprias estratégias para lidar com o momento. Caso contrário, ele pode ser rotulado como o ‘estraga festas’ da família.

Contudo, para autistas que souberam do diagnóstico ainda na infância, haverá mais chances de recorrer a suas ferramentas de suporte para essas ocasiões. Porém, se o adulto não as tiver, a época pode ser vivida como um pesadelo. Aliás, pessoas autistas 60 mais, tendem a se irritar com a casa cheia, o volume das conversas, o aroma diferente. Geralmente, são taxados de ‘velhos esquisitos’ e ‘ranzinzas’.

As festas de fim de ano e o autismo na minha vida

Quando eu era criança, ao contrário de minha filha, nas férias eu conseguia me organizar melhor. Ficava completamente exausta por causa da escola e sonhava com o fim de ano. Eu conhecia muito bem o ritual. A ceia acontecia na casa de minha avó. Todos os filhos se reuniam e o cardápio, as bebidas e a sobremesa eram sempre os mesmos.

Sapatos novos e roupa nova também, somente para essa ocasião. Com o eu não precisava de comprá-los, era tarefa de minha mãe, eu amava. Mais tarde, percebi o horror que tenho de ir a lojas experimentar roupas. É uma verdadeira tortura que eu evito a todo custo. Minha vó não gostava de muito barulho. Assim, a gente conversava, ria e ia dormir. Já no fim de ano, a gente ainda dançava um pouco antes de deitar.

No início da juventude, me fechei para tudo isso. Os comentários dos colegas de trabalho, a cidade agitada e mais barulhenta, a ansiedade do coletivo, tudo isso era muito complicado para mim. Dessa maneira, eu ficava nervosa, pensando nas lojas cheias e, sempre que podia, antecipava minhas compras. O que, claro, já me desgastava a partir de novembro.

Selma e a filha Sophia

Depois de casada, nunca fiz uma árvore de natal que dependesse de eu comprar. A tarefa era extenuante, com seu excesso de cores, vendedores falando, sugerindo isso ou aquilo, as múltiplas possibilidades de escolha. Quando a Sophia era criança, me lembro de pedir a uma colega de trabalho para comprar e montar uma árvore de natal para mim. Levei-a para casa com cuidado. Sophia amou. Ainda bem. Quando passou a data, guardei a pequena árvore montada e tive sossego por vários anos.

Selma Sueli Silva é criadora de conteúdo e empreendedora. É articulista na Revista Autismo (Canal Autismo) e Conselheira da Unesco Sost Transcriativa. Em 2019, recebeu o prêmio de Boas Práticas do programa da União Europeia Erasmus+.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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