Victor Mendonça e Raquel Romano
Qual é a diferença entre a arteterapia e arte-educação? Entenda essa diferença e o papel do educador para a expressão criadora da criança.
Victor Mendonça: Nosso assunto de hoje: a tangência entre arteterapia e arte-educação. E a Raquel tem as duas formações, mas são coisas diferentes, não é mesmo Raquel?
Raquel Romano: Há essa tangência, mas como eu já disse por aqui, o professor não tem que saber analisar o trabalho artístico do aluno, o desenho da criança. O papel do arte educador é estimular a expressão criadora do aluno e é isso que é importante. Na escola, a arte é um conteúdo, uma disciplina com seus conteúdos próprios e que não é só de artes plásticas pois a música, o teatro e outros, também fazem parte dessa disciplina.
Victor Mendonça: Minhas memórias artísticas são todas muito importantes e como elas interagem entre si também é muito legal.
Raquel Romano: Exatamente. Você vai fazer um trabalho teatral e, na escola, o teatro não é para formar artistas. Normalmente, há um tema proposto, mas nós não devemos escolher, nem excluir ninguém pois isso aí é uma outra questão seríssima. Escalar sempre aquela menina bonitinha, de olhos azuis todas as vezes, para fazer o papel principal é um desrespeito aos outros. A arte-educação tem como princípio democratizar a expressão criadora para todos os alunos da mesma forma.
Claro, que cada um se expressa de um jeito, mas todos tem como se expressar. Então, ao fazer uma peça teatral, há um diálogo entre as linguagens artísticas, como você mesmo observou. Por isso, é importante que todos os alunos participem. Que haja ali uma interação entre as ideias, do tema, seja ele qual for. Devemos trilhar um caminho para que haja o menos cópias possível da televisão, do estereótipo, senão você entra no estereótipo de novo, imitar a figura de televisão, imitar um ator, eu já vi muito isso e sei que não é interessante para o desenvolvimento da criança. E, às vezes, o professor não têm nem consciência e faz com amor, com carinho. Mas, ele está perdendo uma oportunidade muito grande de incentivar, de estimular a expressão criadora desses alunos desde a concepção da peça, passando pelos elementos necessários, mobiliários, adereços, trilha sonora, o que for. É dessa forma, o professor vai descobrindo talentos. Nas artes plásticas
, você usa o corpo, a música, que é um meio de expressão fantástico, mas estamos falando de arte-educação. E é isso que importa, educar a criança por meio da expressão criadora. E não formar grandes atores, pintores ou atrizes.Victor Mendonça: E na arteterapia?
Raquel Romano: Na arteterapia, nós podemos trabalhar com todas as todas as técnicas também, mas é diferente, porque há uma condução em função da pessoa ou do grupo que está sendo beneficiado pela arteterapia. Assim, nós fazemos uma análise das suas expressões e estimulamos a liberação de bloqueios e de talentos, também. Porque a gente quer que essa pessoa assistida, se torne uma pessoa espontânea, com a percepção desenvolvida, para se comunicar com o mundo e com as pessoas. Então, Victor, o que você teria a dizer, já que você faz arteterapia?
Victor Mendonça: Eu tenho um carinho especial por esse tipo de terapia, porque foi por meio da arteterapia que eu me tornei um apresentador melhor, um escritor melhor, uma pessoa melhor para interagir com as outras pessoas. Melhor não no sentido de julgamento, mas no sentido de ter mais recursos, estratégias para isso. No meu livro “Entre fadas e bruxos” a ilustração foi toda executada durante o meu processo arte terapêutico. E eu pude usar os meus desenhos no livro. Eu me orgulho muito desse trabalho porque eu era a criança que tinha esse bloqueio: “ah, eu não sei desenhar, eu tenho dificuldade, eu não nasci para isso.”. Gente, todos nós podemos fazer o que a gente quiser se a gente usar as ferramentas necessárias para isso. A arteterapia é esse recurso, ela nos fornece essas ferramentas. Muito obrigado Raquel, por me tornar outra pessoa, não me mudar, mas de tirar de mim o que eu tenho de melhor e que estava bloqueado.
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