Hoje o nosso tema é Arte e Autismo. Ou Arte e Neurodiversidade. Mas, o que uma coisa tem a ver com a outra? Bom, eu acho que é tudo, né? Afinal, apesar de aquele mito de quando eu tive meu diagnóstico de que autistas é tudo gente de exatas e matemáticos doidões, que tem aquelas barras gigantes, nem interage socialmente, a realidade não é assim. Aliás, a prática não é bem assim.
Dessa forma, há muitas pessoas autistas que são artistas. Ou seja, que ilustram ou atuam, por exemplo. Inclusive, tem gente que acha que atuar é fingir. E que autista não sabe fingir. Porém, atuar é uma técnica que quem se esforça consegue aprender. Também, há autistas que escrevem, como eu. Por exemplo, escrevi o livro Metamorfoses, meu último título. Então, já publiquei dez livros ao total.
Enfim, a arte se manifesta de várias formas na vida das pessoas autistas. Portanto, não necessariamente para ser um artista de profissional. Por exemplo, eu escrevi um livro com a Raquel Romano, saudosa, que se chamava Expressão Criadora. Nele, a gente falava sobre arte no cotidiano e como a gente pode aplicar as técnicas da arte para se desenvolver melhor no dia a dia. Ou seja, também podem ser ferramentas nos tratamentos psicológicos e educacionais.
Mas, por que tem tantos artistas autistas? Afinal, às vezes a gente pode até parar para pensar nisso. Mas, eu tenho uma teoria de que a arte nos permite uma maior liberdade dentro de alguns critérios. Ou seja, é tudo que um autista adora. Isso porque ele quer ser livre, quer descobrir, quer questionar o mundo fora dos padrões que foram concebidos.
Porém, pessoas autistas também querem ter seus rituais e rotinas muito próprias. E na arte, a gente não tem os conceitos de certo ou errado. Em vez disso, a gente tem critérios que vão servir de avaliação. Porém, aquilo que importa são os argumentos. Ou seja, não exatamente um certo ou errado. Afinal, eu faço uma obra autoral que alguém pode ter argumentos tanto negativos quanto positivos muito fortes para defender aquela arte que eu fiz. Então, está valendo.
Além disso, as pessoas autistas artistas conseguem se expressar de uma forma que talvez elas não conseguissem sem esse tipo de linguagem. Por exemplo, há gente que não é oralizada, mas desenha maravilhosamente bem. Tem quem faça vídeos, cinema, dirija filmes, por exemplo. Porém, se você vai conversar com a pessoa, ela parece totalmente travada.
Assim, há vários perfis. Por exemplo, tem gente que sofre muito, tem aquela raiva, parece que vai ter uma crise horrorosa e escreve uma música, um rock pesado e aí está de boa. E ainda ganha dinheiro com isso. Então, é como diz a Shakira: as mulheres não choram, as mulheres faturam.
Dessa forma, a arte é um caminho muito bacana e que precisa ser mais valorizado. Inclusive não somente no autismo, mas para qualquer pessoa. Aliás, eu sou meio suspeita para falar porque a arte sempre esteve no meu cotidiano, seja em um podcast que eu faço, ou em um livro que eu escrevo. Assim, eu gosto de trazer essa veia artística. Aliás, já fiz teatro e alguns vídeos musicais. E valeu a experiência. Então, é isso. Não vamos podar não, gente. Vamos aproveitar o potencial das pessoas do jeito que elas são. Se tem uma mensagem que eu queria deixar com esse conteúdo, é essa.
Sophia Mendonça é uma youtuber, podcaster, escritora e pesquisadora brasileira. Em 2016, tornou-se a pessoa mais jovem a receber o Grande Colar do Mérito em Belo Horizonte. Em 2019, ganhou o prêmio de Boas Práticas do programa da União Européia Erasmus+.
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