Alterações Sensoriais em Pessoas Autistas é um assunto sempre presente na vida dessas pessoas. Ou, em outras palavras, o Transtorno do Processamento Sensorial traz sempre muita inquietação para todos nós. Tais alterações podem acontecer em diversos sentidos físicos. E não apenas, naqueles que conhecemos do senso comum. Por exemplo, todos conhecem o tato e paladar. Mas existem outros sentidos, além dos cinco mais conhecidos. É o caso de propriocepção e sistema vestibular.
Respectivamente, esses sentidos são responsáveis pela noção de força e o senso de equilíbrio que uma pessoa exerce nas interações sociais e com o meio ambiente. Certa vez, uma psiquiatra me disse que as alterações sensoriais entraram nos critérios diagnósticos para autismo, apenas em 2013. Ou seja, elas tornaram-se parte oficial do Transtorno do Espectro Autista com o DSM-V.
Porém, aqueles que trabalhavam com o autismo já consideram mais essa característica para o transtorno muito antes disso. Na verdade, a contribuição colhida com os relatos de autistas com menor demanda de suporte, foi o que possibilitou a descoberta deste traço. Aliás, é um sinal de autismo presente em todos os níveis de complexidade que a condição pode manifestar. Isso quer dizer que as alterações sensoriais existem em todos os graus de autismo, definidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM.
O que as alterações sensoriais em pessoas autistas podem causar
Na prática, conviver com o transtorno sensorial não é fácil. Por exemplo, se minha mãe mãe estiver hiperfocada em uma demanda, ao chegar feliz para abraçá-la, o toque é incômodo ou mesmo doloroso para ela. Afinal, é mais estímulo. Portanto, não cabe naquele momento. Às vezes eu também me assusto. É que ela não sabe quando estou às voltas com um raciocínio importante. Daí, mamãe interrompe e eu olho para ela, como quem diz: “não chega nem perto senão eu vou perder o fio da meada”.
Além disso tudo, toda nossa família apresenta algo que nos traz muito sofrimento. É algo em comum entre mim, minha mãe, minhas tias e minha avó. Ou seja, a nossa hipersensibilidade ao frio. Por exemplo, se a temperatura cai, a sensação térmica parece que diminui mais ainda para a gente. Antes, eu me definia como daquelas pessoas que qualquer ventinho irrita. Isso porque eu sinto frio de um jeito até mesmo, constrangedor. Por exemplo, eu coloco roupa de frio até para ir à praia. É que, quando começa a ventar, eu sinto frio e irritação. Mesmo que todas as outras mulheres ainda continuem tranquilas com os seus biquínis.
Na realidade, essas alterações podem ser para mais (hiper) ou para menos (hipo). Então, há casos de crianças que gostam de ficar sem roupa. Não suportam ficar vestidas. Isso pode significar uma hipersensibilidade à textura do tecido. Também pode ser uma baixa tolerância ao calor. Só que isso, claro, vai variar de pessoa para pessoa. Mesmo entre autistas. Por exemplo, qualquer barulho aqui em casa, ou na rua, incomoda mamãe. Mas comigo, é diferente, pois eu posso dar entrevista em um local com banda de música que não fico incomodada. Entretanto, o barulho da seta do carro me fere o ouvido.
Alterações Sensoriais complicam bastante a vida dos autistas
Agora, a questão do frio, sinceramente, me desequilibra. Inclusive porque, se eu não estiver confortável com o agasalho, a roupa vira outro problema. Além do frio, claro! Some-se isso o cabelo molhado. Dessa forma, é inevitável que o humor desapareça.
Aliás, vocês não tem noção do horror que é conviver com a minha avó no frio. Vovó passa muito mal nessa época. Fica péssima. E eu também. Assim, ficamos depressivas e irritadiças instantaneamente.
Tudo isso, sem falar no rótulo infalível de mulher fresca. Assim, mesmo no calor, sinto uma gastura forte com água fria no salão de beleza. O que, na minha maneira de sentir e perceber, chega a ser pior que a maioria das dores. Enfim, desse modo a gente vai se conhecendo e se respeitando. Além de buscar ter maior empatia com os outros. Aos autistas que tiveram o diagnóstico precoce, a terapia ocupacional ameniza, ou mesmo elimina, a maioria dessas nossas aflições diárias. Ainda bem!
Texto da Influenciadora e Mestre em Comunicação Social e Pesquisadora Sophia Mendonça
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.