Parece simples a afirmativa: acreditar no filho possível é viver a vida real. Mas como a mamãe grávida vê o filho desejado? Normalmente, ela o enxerga como um mar de possibilidades, de sonhos realizados, de pura magia. Erro dela? Certamente não! O mundo ao redor da grávida é construído com cores angelicais e luzes tênues.
Também não seria apropriado esperar pelo outro extremo: uma realidade em que tudo vira o caos e exige até a última gota de nosso sangue. Eu sempre optei por algo mais ao meio. Até me tornei budista por isso. Persigo o caminho do meio, o equilíbrio.
O filho possível é aquele que nos chega ao fim dos meses de espera: 6, 7, 8 ou 9 meses. O filho perfeito é o filho possível. Que nos chega do seu jeito. Aliás, mais que isso, do seu jeito e com características únicas. Algumas características, na verdade, vão se firmar ou mesmo surgir ao longo de sua trajetória pela vida. Acreditar no filho possível é viver a vida real. Um dia de cada vez.
Dessa maneira, é precipitado o tal chá de revelação. Mais tarde, essa lembrança materializada em vídeos, fotos e mídias sociais pode levar a antes criança e agora adolescente, a um profundo constrangimento. Assim como fotos de bebês peladinhos. Há algum adolescente ou adulto que tenha orgulhos de suas fotos ‘peladinho’ na infância?
Nosso filho possível ou perfeito do jeito dele é o presente, o hoje, e todo o que virá a ser, o futuro. Mas não o futuro que desenhamos para ele. E sim o que vamos estimular e orientar para que ele possa, sozinho, revelar todo o seu potencial e construir o próprio futuro. O potencial possível ou perfeito do jeito que nosso filho é e se faz, dia após dia. Nesse processo, não cabem imposições, sonhos transferidos dos pais para os filhos. Aliás, quem disse que sonhos são herança genética,
que passam automaticamente de pai para filho?Então, a mãe contemporânea começa (ou deve) abandonar crenças limitantes. Por exemplo, “Meu filho é homem do saco roxo”, “Minha menina é a princesa que chegou para mim”, “Ela é linda, será modelo como a Gisele Bundchen”, “Bravo desse jeito, meu filho será um excelente policial”. Vale também crenças que se constroem um pouco mais tarde: “Então, você não vai dar em nada”, “Você é preguiçoso”, “Mas, menina, você é levada demais”.
Crenças limitantes ou vaticínios só fazem mal e nos engessam. Raul Seixas cantava:
Há tantos caminhos, tantas portas Mas, somente um tem coração E eu não tenho nada a te dizer Mas, não me critique como eu sou Cada um de nós é um universo, Pedro Onde você vai eu também vou Pedro onde cê vai eu também vou Pedro onde cê vai eu também vou Mas tudo acaba onde começou. É isso, desde sempre. Nossos filhos podem ir a qualquer lugar que eles queiram. Só eles podem dizer até onde podem ir. Mas uma coisa é certa: 'tudo acaba onde começou.' De preferência, um início com amor, confiança, orientação e estímulos adequados. Sem discriminação, capacitismo, vitimismo, auto piedade e ignorância.
‘Cada um de nós é um Universo’. Há que se fazer a exploração desse universo com cuidado e sabedoria. Todos nascemos com o potencial para ser feliz e contribuir para a felicidade do outro. Vamos nessa?
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