Eu costumava me perguntar se eu odiava o autismo.
Recebi meu diagnóstico em 2008, bem na adolescência. Para quem se lembra dessa fase, sabe que ela já é complicada por si só; com um diagnóstico que muda a forma como você vê o mundo (e como o mundo vê você), ela se torna ainda mais.
Naquela época, a vida era, de fato, um sofrimento. Portanto, eu me sentia constantemente exausta, vivendo em um mundo onde eu não conseguia entender bem as regras. Pior do que isso, era um mundo que parecia não fazer a menor questão de me entender de volta.
🎯 O Alvo Fácil: Culpando o Autismo
Quando você sente dor e exaustão, a reação mais humana é procurar um culpado. E eu encontrei um.
Era mais fácil culpar o autismo por tudo. Afinal, o autismo era uma abstração, um rótulo conveniente para toda a minha dor e meu desajuste. Então, seu não conseguia me encaixar, a culpa era do autismo. Se eu me sentia isolada, a culpa era do autismo.
Eu me coloquei no papel de vítima. Mas o que eu descobri da maneira mais difícil é que o vitimismo não leva a lugar nenhum. Ele apenas nos mantém paralisados, esperando que o “culpado” desapareça para que a vida possa começar.
💡 A Grande “Virada de Chave”: Aceitar o Autismo Mudou Tudo
A verdadeira mudança, a “virada de chave” da minha vida, não aconteceu quando o mundo mudou ou quando o autismo foi embora (porque ele não vai). A mudança aconteceu no exato momento em que eu me aceitei como autista.
Aceitar não é desistir. Não é se resignar passivamente ao sofrimento. Pelo contrário: aceitar é o primeiro passo ativo para a mudança real. Foi só quando parei de lutar contra mim mesma que eu pude, finalmente, começar a trabalhar a meu favor.
🚀 A Vida Após a Aceitação
A partir do momento em que me aceitei, tudo começou a se encaixar. Não magicamente, mas com esforço e autoconhecimento. Foi aí que eu pude:
- Lidar com a minha mente: Comecei a entender como meus processos funcionavam, quais eram meus gatilhos e quais eram minhas forças.
- Construir relações mais saudáveis: Aprendi a comunicar minhas necessidades e a entender melhor os outros, estabelecendo limites e conexões verdadeiras.
- Valorizar minhas qualidades: Parei de focar apenas no que eu “não podia” fazer e comecei a ver o valor na forma única como minha mente operava.
Olhando para trás, o problema nunca foi o autismo. O problema era viver em guerra comigo mesma.
Sim, aceitar o autismo foi o que mudou tudo.
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Vídeo – ACEITAR O AUTISMO MUDOU TUDO! Da Culpa à Valorização: Uma Jornada Pessoal

Autora
Sophia Mendonça é jornalista, professora universitária e escritora. Além disso, é mestre em Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades (UFMG) e doutoranda em Literatura, Cultura e Tradução (UFPel). Idealizadora da mentoria “Conexão Raiz”. Ela também ministrou aulas de “Tópicos em Produção de Texto: Crítica de Cinema “na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto ao professor Nísio Teixeira. Além disso, Sophia dá aulas de “Literatura Brasileira Contemporânea “na Universidade Federal de Pelotas (UfPel), com ênfase em neurodiversidade e questões de gênero.
Atualmente, Sophia é youtuber do canal “Mundo Autista”, crítica de cinema no “Portal UAI” e repórter da “Revista Autismo“. Aliás, ela atua como criadora de conteúdo desde 2009, quando estreou como crítica de cinema, colaborando com o site Cineplayers!. Também, é formada nos cursos “Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica” (2020) e “A Arte do FIlme” (2018), do professor Pablo Villaça. Além disso, é autora de livros-reportagens como “Neurodivergentes” (2019), “Ikeda” (2020) e “Metamorfoses” (2023). Na ficção, escreveu obras como “Danielle, asperger” (2016) e “A Influenciadora e o Crítico” (2025).
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

