Chego aos 58 anos surpreendendo pela aparência e disposição. Mas também, com a maldição da mulher ‘perfeita’. Entretanto, eu sequer sabia que havia sido sentenciada, pela sociedade, a ser bagaço, nesta fase. Isso mesmo. Descartável e encostada a um canto ou casa de repouso. Assustados? Não! De fato, essa é a pura verdade.
Não sou nenhuma #Andréa Beltrão, que falou recentemente sobre o etarismo. Ou seja, sou apenas, comunicadora, youtuber, escritora, influencer, mãe de família, separada judicialmente, humanista e membro da #SGI – Soka Gakkai Internacional, mulher (ah, mulher…)
#Martinho da Vila canta ao fundo de minha memória: “Você não passa de uma mulher!” para depois emendar: “Pra ficar comigo tem que ser mulher (tem, mulher), Fazer meu almoço e também meu café (só mulher), Não há nada melhor do que uma mulher (tem, mulher?)
Você não passa de uma mulher (ah, mulher)”. O ano era 1975.
Aliás, em 75, eu entrava para a adolescência, embalada por ‘afirmativas poéticas’ dessa natureza. Na verdade, amo Martinho da Vila. Mais que isso, entendo que a arte, por vezes, repete a vida. Contudo, até um ponto em que precise subvertê-la.
Então, eu, filha de Irene, a dita ‘p…’ porque ousou por fim a um casamento, em 1967, tive a boa sorte de ter uma mãe que sempre pensou e agiu por si mesma. Certamente, embalada pelo melhor de sua intuição de vanguarda.
Foi assim que passei de ‘p… filha’ à ‘mulher forte’, fruto da louca década de 80. Na verdade, nesta época, sua piscina, a modo de Cazuza, também esteve (ou está) cheia de ratos. E suas ideias não correspondem aos fatos’… Talvez, por isso mesmo, eu tenha me transformado na mulher forte, hiperfocada no sucesso profissional. Ou seja, eu sou a senhora de minha mente, a provedora de meus gastos. Independente? Sou?…
Independente? Ninguém é. Somos todos interdepentendes, envolvidos por uma vida sistêmica, interrelacionada, portanto. Isso não é ruim. Facilita. Mas, infelizmente, muitos não entendem essa interdependência, ainda. Arrotam uma liberdade, um direito à própria opinião que, na maioria das vezes, não passa de sandices, comuns a todos nós, pobres mortais.
Assim, vivi o “antes, durante e depois” do rótulo de mulher forte, inteligente e independente. Rotulada assim, ficava mais fácil ser apartada, muitas vezes sem cuidado, abruptamente, repentinamente. Voltamos pois, ao uso de estereótipos.
Minhas deusas! Há muito, os estereótipos são usados para justificar ações inapropriadas vindas, em massa, da sociedade.Não existe a mulher perfeita. Portanto, me recuso a viver essa maldição. Escolhi e me casei com um intelectual, poeta, artista... Desse modo, com a fragilidade vinda de um entendimento visceral da vida. Tal e qual a mim. E, por azar, vítima do machismo estrutural que o fez e faz creditar-se, a si mesmo, como mais inteligente que eu. E olha que ele nunca percebeu esse seu traço machista. Tivemos uma filha autista, eu mesma autista, sem diagnóstico. Ele depressivo, com vocação ermitã. Certamente, não iria mesmo durar ‘ad eternum’. Não me queixo. Sei que ele é feliz e eu também, 14 anos após nossa separação. Mas continuo com a maldição da mulher perfeita.
Novas tentativas? Sim, claro. Contudo, com descobertas frustrantes. “Você é mais forte que eu”. “Nunca estive com alguém tão inteligente.” “Você não precisa de ninguém.” “Que mulher incrível é você.” “Podemos pular etapas, já não somos adolescentes.” Eu poderia confrontar cada uma dessas afirmativas e até justificar porque as considero tolas e lamentáveis. Mas ando cansada demais… sem paciência demais.
Por exemplo, quando o ser humano, do alto da experiência que os anos vividos podem nos oferecer, deixou de perceber que observar a vida a dois, para depois tecer a colcha conjunta dessas observações, é algo rico nessa fase de nossas vidas?
Compartilhar o olhar dos tempos sem tanto aparato tecnológico e resgatar os gatilhos para a criatividade, com as gerações mais jovens, é vida! Perceber a riqueza da educação de co-gerações é sabedoria! Tudo isso, sem ser regado pela insegurança juvenil.
Texto de Selma Sueli Silva, jornalista
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