Hoje vou falar sobre a independência do autista. Afinal, sempre gostei muito de viajar. Porém, a minha primeira viagem sozinho foi um ano antes da minha formatura. Dessa forma, fui fazer um mochilão pela América do Sul. Isso me demandou um longo tempo de planejamento e pesquisa. Hoje eu sei que isso é típico de uma pessoa autista. Ou seja, o planejamento continha detalhes, da planilha de custos ao destino.
Só que mesmo com muito planejamento, as coisas invariavelmente saem do planejado. Afinal, imprevistos acontecem. Porém, sempre que acontecia algum imprevisto na minha viagem, eu me sentia muito mal. Assim, ficava muito desorganizado. Mas, eu não entendia por que eu estava sentindo aquilo. Já que eu sabia que imprevistos acontecem.
Daí, os anos foram avançando um pouco. E depois que eu terminei o mestrado, eu fui fazer uma pós-graduação. Assim, fiz um intercâmbio na Europa, em Londres. Este era meu sonho. Porém, o período de preparação foi bastante estressante. Isso porque me dava muita agonia. Afinal, queria saber onde iria morar pelos cinco meses da viagem.
Também queria saber os lugares que eu visitaria, todos os restaurantes onde eu ia fazer as minhas refeições. Ou seja, tudo bem planejado e bem detalhista. Então, eu via o trajeto todo que eu teria de fazer no Google Maps. Novamente, eu não sabia que esse planejamento é típico de pessoa autista.
A viagem em si foi maravilhosa. Mesmo assim, eu fui sozinho morar lá. Então, foi uma experiência diferente da minha vida aqui em casa. Assim, aqui na minha casa eu estudo muito. Então, apesar das dificuldades, eu apenas estudo, acordo e faço as minhas refeições já prontas. Isso porque a casa e a roupa são constantemente limpas. Dessa forma, a minha preocupação se concentra em estudar e ser feliz.
Já na Inglaterra, eu estava morando. Então, eu tive que dar conta de estudar, o que foi bastante pesado por si só. Isso porque a faculdade é pesada. Ou seja, as aulas eram super intensas. Elas envolviam muito trabalho e pesquisa. Além de estudar, eu tive de cozinhar e cuidar da casa pela primeira vez.
Então, estar sozinho e me organizando tornou esse período muito desgastante. Afinal, eu nunca me senti tão cansado e perdido quanto nessa época. Tudo isso no longo prazo foi me fazendo muito mal.Aí eu acabei agravando o transtorno de ansiedade generalizada que eu já tinha. Também desenvolvi depressão. O que foi bem barra pesada. Sem contar no desgaste físico mesmo.
Assim, eu ficava ligado o tempo todo. Chegava a me deitar para tentar dormir e não conseguia. Afinal, a cabeça ficava antenada a 24 horas. Isso não é saudável de forma nenhuma. Agora, imagina a minha situação sozinho. Então, bem longe de casa, foi um desafio bem maior.
James Thiago Cruz é Pesquisador e bacharel em Relações Internacionais e Biologia. Também é mestre em Desenvolvimento Sustentável. Além disso, é membro das Comissões da Pessoa com Deficiência da OAB/PA e da ONU.
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